Artigo
Aos dias melhores
que não virão

jornal T
urma da Barra

*Angélica Alencar


            É certo que o iniciar de mais um ano traz sempre consigo um desabrochar de mil esperanças, não raro desfilamos mentalmente, diante de nós mesmos, um rol de promessas, esperançosos de que nos próximos 365 dias coisas melhores aconteçam, mudanças se deem, sonhos se concretizem. Como professa o poeta é “outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente”. No entanto, diante do atual cenário político de Barra do Corda (MA), sem medo, posso afirmar: Dias melhores não virão!
            Não se trata aqui de ser pessimista. Conforme o dicionário Aurélio, pessimismo é a "disposição de espírito que leva o indivíduo a encarar tudo pelo lado negativo, a esperar de tudo o pior". Não, indubitavelmente, meu espírito não se encaixa nesta definição, mesmo que por vezes ele até se debruce em uma totalmente melancolia, pessimista ele não é.
            Olhar as coisas à distância, na maioria das vezes melhora o foco, alguns detalhes que de muito perto passam por despercebidos, acabam por se mostrar.
            Com tristeza e pesar e um pouco de ceticismo, confesso, mais uma vez posso asseverar: Para Barra do Corda/MA, dias melhores não virão!
            Não virão pelas mãos dos atuais governantes, e aqui me despojo de enumerar os porquês, a mim basta a constatação de que o maior desejo dos barra-cordenses ainda é água na torneira.
            Para mim basta saber que os hospitais da cidade, continuam como todos sabem, em um estado de negligência continuada, realidade que eu desafio a qualquer cidadão de provar-me ao contrário e provar-me da melhor maneira que há: adoecendo!
            Para mim, basta saber que a educação de Barra do Corda está entre as piores do país, e aqui o números não me desmentem.
            Há quem dirá: Mas as ruas estão limpas, a cidade é um canteiro de obras. Não sou contra as grandes obras, pelo contrário, fico feliz em vê-las. As grandes obras geralmente são chamativas, nota-se como se diz em latim ictus oculis, ou seja, num relance.
            No entanto, eu não posso gloriar as grandes obras o que, diga-se de passagem, em Barra do Corda nem são assim tão grandes, quando o que é essencial é colocado em segundo plano, quando o que é fundamental não alcança efetivação pela mãos dos que detém o poder.
            Tudo isso me faz recordar, uma fábula, que li na adolescência, da qual não me recordo o autor, mas que contava a história de um rei opressor que descuidava de cuidar do seu reino, mas que um dia seria visitado por um outro rei de um reino muito distante do seu, e então para não deixar às vistas a sua total negligencia, mandou pintar grandes quadros que retratavam um reino bonito, com súditos felizes... Assim, quando o rei passasse não veria a realidade que por trás se escondia.
            Quando volto meu olhar para o que chamam de “oposição”, minha voz avigora-se a mais uma vez repetir: Dias melhores não virão! Não consigo enxergar gente que deseje ao diferente do “trono”.
            O-PO-SI-ÇÃO - Resistência que se opõe a uma ação, mas, não serve quando no olho brilha o desejo velado de fazer igual ou talvez pior se com o poder estivesse nas mãos! É o mesmo desejo de possuir os mesmos carros, as mesmas mansões, o mesmo status. Se estiver errada, é tão fácil provar o contrário, dedicação ética e comprometimento, não são exercitáveis apenas quando se está com o “poder na mão” ou quando é ano de eleições.
            Você deve está então a se perguntar, não há saída? Como dizem no seriado mexicano chapolim colorado: Que poderá nos defender?
            Ninguém! Ninguém poderá nos defender de nós mesmos, das nossas escolhas, da nossa incapacidade de notar que talvez as pessoas capazes de modificar esta realidade, estão aí figurando o nosso cotidiano, fazendo a diferença, dia-a-dia, de uma forma natural e desinteressada.
            Gente que não precisa chegar ao “poder”, para ser ético e realizar a sua parte. Gente que no pouco se faz fiel. Aquele professor que educa seus alunos como se fossem seus filhos, aquele médico que mesmo sem estrutura nenhuma luta para salvar a vida de alguém. Aquele servidor público que todo dia diz não à propina e teima em fazer o que é certo mesmo quando o sistema “já vem pronto”.
            Não são heróis e nem santos, mas, pra muitos são invisíveis. Talvez, só por isso, eu mais uma vez repita: dias melhores não virão!

*Angélica Alencar é poeta, membro da Arcádia Barra-Cordense

(TB19jan2012)

 

 

Poema
Poesia nova
jornal T
urma da Barra

 

Nem tudo que incendeia aquece

Nem tudo que se engole desce

Porque nem de todo prazer se goza

Nem todo espinho vem da rosa

Nem tudo que lateja é dor

Nem todo o suor vem do calor

Nem todo gemido vem do sofrer

Como nem toda lágrima vem da alma

Nem tudo que silencia acalma

Nem toda hora tem 60 minutos

E um quarto pode ser um mundo

E a multidão que caminha apressada

Nem sempre está atrasada

Nem todo discurso é vazio

Nem todo inverno é frio

Nem toda primavera é alegre

Com nem todo segundo é breve

Nem toda hora é hora

Nem tudo que é urgente é pra agora

Nem tudo que mata sepulta

Como nem tudo que é som se escuta

Nem toda porta é pra ser fechada

Porque nem todo caminho é estrada

E nem toda prece é oração

Como nem todo peito tem um coração

Porque nem todo leito é pra descansar

Nem toda canção é pra fazer sonhar

Nem todo olhar consegue ver

Nem todo conhecimento é saber

Nem toda resposta nasce da pergunta

Nem todo dia chato é segunda

Porque nem todo beijo é também abraço

Nem todo desejo se rende ao cansaço

 

Nem toda água pode apagar o fogo

Nem toda ilha esconde um tesouro

Nem tudo que voa tem asas

E nem todo jogo é cartas

Porque nem toda rima quer ser poesia

Nem toda noite acaba com o dia

Nem todo sorriso se estampa no rosto

Nem tudo que alimenta tem gosto

Nem toda palavra é pra ser dita

Nem todo sentimento é pro resto da vida

Com nem toda cicatriz foi um dia ferida

Nem todo quadro tem moldura

Nem toda aquarela é pintura

Nem todo prostrar é de submissão

Porque nem todo perfume tem sedução

Nem toda honra tem glória

Nem todo ganhar é vitória

Nem todo adeus vem da partida

Nem tudo que respira tem vida

Nem toda mentira trás um pouco de verdade

Nem tudo que é palpável é realidade

Nem toda pedra é pra ser tirada do caminho

E nem todo toque é de carinho

 

Nem toda poesia nasce com o escrever

Mas todas as minha são pra você

Nem todo sentimento morre com um não

Nem todo querer sucumbi à solidão

Nem sempre quem luta quer resistir

Nem sempre quem para quer desistir

Porque nem toda frase já vem feita

E o “eu te amo” pode ser verdade

Porque nem tudo é só falsidade

E o que reluz pode ser mesmo ouro

Ainda que você seja um tolo!


*Angélica Alencar é poeta, membro da Arcádia Barra-Cordense

(TB11jul2010)

 

 

Poema
Pedaço

jornal Turma da Barra

 

No Dia Internacional da Mulher,
o TB publica o poema Pedaço, de Angélica Alencar
poeta da nova geração barra-cordense,
que alia sensibilidade com reflexão profunda da vida

 


Você é meu pedaço
Meu braço
Parte viva de mim.
Você é minha asa
Minha alça
Onde paro pra ser feliz.
Tudo que desejo é teu peito
Meu leito.

Sossego é ter você aqui...
Vem e enche este quarto de brilho,

Causa-me arrepios!
Teu riso é tudo que quis pra mim.
Nossas vidas já foram atadas
Já nos vejo de mãos dadas

Fazendo inveja ao pôr-do-sol
Vem, que há vidas que não te vejo
E essa, estar se consumindo em desejo
De conhecer esses olhos teus
Há quem diga que isso é só loucura
Que minha vida não pode ser assim tão tua
Que não é nossa essa rua que leva a perfeição
Mas o que pode ser dito quando o corpo da gente perde a razão?
Quando minha alma dormente se deitar no colo teu?
Eu até renuncio as palavras
Só pra sentir a calma
Do teu peito sobre o meu,
Eu nem quero ter rima
Se teu corpo em cima do meu descansar
E sentir o gosto do peso do teu rosto
Colado sobre o meu...
E pedir baixinho pra ter teus carinhos:
Não, não vá agora!
E ter a certeza que no entra e sai da vida,
Nunca irás embora,
Te ver de joelhos
Revelando segredos,
Me ensinando a amar,
Vem ser meu pedaço
Sem você não me acho
Falta o teu abraço
Pra me completar

*Angélica Alencar é poeta, mora em Barra do Corda