Artigo
Sonhar não tem idade
jornal Turma da Barra


Cezar Braga

"

"Não sei o que acontece e fiquei pensando o leva a pessoas idosas, assim como eu, se sentir jovem, na flor da idade.
É verdade que em alguns aspectos temos que admitir a idade, a memória já não é mesma para as coisas do dia-a-dia,
embora respondam imediatamente às lembranças mais antigas
"

*Cezar Braga

 

 

            Essa semana, na fila da casa lotérica, foi questionado porque não estava na fila de atendimento especial, no meu caso para idoso.
            Pela lei sou idoso, mas não me sinto velho. Às vezes me sinto pensando como se tivesse menos anos.
            Não sei o que acontece e fiquei pensando o leva a pessoas idosas, assim como eu, se sentir jovem, na flor da idade. É verdade que em alguns aspectos temos que admitir a idade, a memória já não é mesma para as coisas do dia-a-dia, embora respondam imediatamente às lembranças mais antigas, chegando inclusive, a nos surpreender, quando alguma coisa acontece e a memória, funciona de bate-pronto, nos remetendo a épocas distantes e com riqueza de detalhes, o sexo é mais comedido, a não ser para os que preferem mentir, as farras são mais comportadas e menos extensas...
            Mas uma coisa é verdade, sonhar não tem idade, e talvez seja isso que acontece comigo, continuo a sonhar.
            É bem verdade, que com 65 anos de idade já sonhei muito, mas o fato de muitos desses sonhos não terem sido concretizados, alguns de jeito nenhum, outros parcialmente. Mas os que consegui atingir em sua plenitude, mesmo não substituindo tantos outros não realizados, me enchem de orgulho, satisfação e prazer. Me enchem de tanto orgulho, que teimo em continuar sonhando, continuar querendo algo novo na minha vida.
            Estou cursando graduação de direito. Alguns devem estar se perguntando por que esse curso, nessa idade. Eu mesmo me perguntei muito. Porque um curso completamente diferente da minha primeira graduação e, depois de especializações em engenharia?
            Não foi no sentido de desafio, mas sempre gostei dos meandros do direito e, depois de iniciado o curso, acredito que acertei, entender o que é direito é bem mais difícil do que entender Pitágoras e seus teoremas, é mais difícil do que entender Isaac Newton e a lei da gravidade.
            As integrais e derivadas são mais fáceis e entendíveis do que os fatos jurídicos e as leis do positivismo de Norberto Bobbio.
            Algumas coisas, realmente, mudam, não só o que já comentei antes, mas os assuntos e as discussões. No WhatsApp da Turma da Barra, em que excelentes discussões são postas todos os dias, gente do maior gabarito segurando firme nesses debates, falando com propriedade sobre a política da nossa terrinha, sobre os acertos e desmandos dos dirigentes, da omissão de atitudes, na tentativa de mudar isso dos amigos mias engajados no contexto, como secretários, vereadores e ilustres e dedicados cidadãos, Me permito a ler e passar ao largo, admirando e concordando com os resultados, mas tem algumas que tenho vontade visceral de me meter, como a das postagens sobre as famílias, é bom vermos o debate em torno de pessoas que conhecemos, ás vezes superficialmente, outras com mias profundidade, mas muito salutar e verdadeiramente didático.
            Ao terminar essa crônica, quase no limiar da noite e madrugada, me permito uma citação, da minha própria lavra: Sonhar é bom, melhor ainda é sonhar vivendo uma realidade como se no seu sonho estivesse, não se perde a busca e não se abate com a demora.

*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense

(TB1jun2015/nº621)

 

 

 

Artigo
Pedaços da história
jornal Turma da Barra


Cezar Braga

"

"Escrever, na minha opinião e a de alguns bons escritores e poetas, é muito mais transpiração, do que inspiração."

*Cezar Braga

                            Escrever, na minha opinião e a de alguns bons escritores e poetas, é muito mais transpiração, do que inspiração.
                       Pensando assim, chego a conclusão que escrever, na verdade, é como um músculo: quando passamos algum tempo sem exercitá-lo ou o condicionando a apenas um movimento, ele parece atrofiar e quando voltamos à ativa, ele parece doer ou demorar a atender os impulsos.
                                Por isso, mesmo estando ultimando meu romance, que dá muito mais trabalho do que iniciar, do que estruturar, escrevi muito nesse período, que não mandei para publicação, porque pareciam mais escritos mutilados, escritos sem conclusão, mas que me deram muito prazer e boas risadas.
                                  Ler, também, é uma das maiores delicias do mundo e, essa não carece de inspiração e nem de transpiração, é preciso só vontade, só querer e isso eu tenho demais.
                              Pois bem, estou lendo, com muita calma e voltando muito os capítulos, para realmente entender a história, o livro de Dunshee de Abranches, "A Esfinge de Grajáu" e, nessa semana cheguei ao capítulo VII - NA BARRA DO CORDA, e fiquei muito gratificado com uma passagem descrita pelo autor, que prima, durante todo livro, sem tirar a autenticidade, pela coerência de sua posições e idéias, com ardor e paixão pelos principio que defende.
                          Pois bem, naquele capítulo, ele fala sobre o patrono da cadeira, que honradamente e orgulhosamente, ocupo da Academia Barra-Cordense de Letras, a de número 27, dizendo como lhe foi apresentado o comerciante, durante a festa de 7 de setembro de 1888, que aconteceu no Colégio Santa Cruz:
                            "O segundo chefe liberal(referindo-se ao Diretório Liberal, que faziam parte, entre outros, o comerciante Rocha Lima, o Professor Melo e Albuquerque e o Capitão Epifânio Moreira), a quem Isaac Martins me fez uma apresentação em termo jocosos, ao contrário de Melo e Albuquerque, tivera uma instrução apenas rudimentar, mas possuía um espírito arguto e gracioso que o tornara deveras popular. Assinante de uma biblioteca popular, que então se editava em Lisboa, lia ocultamente os folhetos que mensalmente recebia em sua fazenda, e, depois, expendia aos seus amigos e apaniguados do sertão os assuntos que apreciara, como idéias suas, Dessas brochuras, decorava mesmo os capítulos relativos às doutrinas de Darwin. E, além das idéias transformistas com que embasbacava os circunstantes, chegou a convencer os humildes lavradores da estrada do Mearim de que era compadre de Jesus Cristo e que, por isso, nas suas terras nunca houvera enchentes nem secas."
                            E, em outra passagem do mesmo capítulo, descrevia as mulheres da Barra do Corda, já naquele longínquo 1888:
                       O professor Manuel Tavares, após uma recusa do autor em dançar com uma das alunas, sob o pretexto que era noivo e casaria daqui a algumas semanas, lhe disse:
                    "- Sim Senhor, eu nunca imaginei que, além de hábil tribuno, fôsseis tão fino diplomata. Fugiste elegantemente o primeiro laço que talvez quisessem armar-vos. E chegando os lábios ao meu ouvido: - Meu caro Doutor, prenez garde: a mulher por aqui      não é somente Eva, é também serpente."
                Continuando a conversa com o Professor Tavares, alguns instantes e algumas quadra depois, ele argumentou:
                "- Então professor, acha mesmo que o sexo frágil é um perigo nesta terra?"
               Ao que o Professor retrucou:
              "- Não me referi, replicou sentenciosamente, àquelas moças casadouras que deixamos rodopiar nos salões do Colégio. Essas alimentam a justa aspiração de arranjar um marido; porém, nesses sertões, mais do que em qualquer outra parte, há uma casta de mulheres que se tornou a perdição dos magistrados e padres. Comadres das batinas ou afilhadas das togas, não passam de armas insidiosas manejadas pelos caciques dos partidos. E, especialmente, no Grajaú, para onde devereis ir conhecer das sangrentas desordens ali praticadas, reina um verdadeiro gaftinismo político. Cautela com ele, meu ilustre Promotor!
                Como podemos ver, nem a política, nem a politicagem mudaram durante todo esse tempo, só nos resta esperar que homens como Dushee de Abranches e outros, com seus mesmos princípios, se multipliquem, para nosso bem e de toda nação.

*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense

(TB2fev2015/nº620)

Artigo
Fim de ano
jornal Turma da Barra


Cezar Braga

"Ao desejar a todos que fazem o TB, aos que o lêem, 
aos que não o lêem, enfim a todos homens de fé, ou sem fé, os que crêem e os incrédulos, 
os afortunados e os menos favorecidos, um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo, quero acrescentar a esses votos, uma receita que acredito poderá nos ajudar: Sorrir.
"

*Cezar Braga

            Mais um ano chega ao fim. Mais um Natal nos encontra com saúde e bem dispostos para levar a vida adiante.
            As perdas desse ano, levará a muitos lares de amigos e parentes, inclusive ao nosso, lembranças de outros Natais, onde a falta dos que se foram, chamados por Deus, nos fará pensar e refletir sobre a vida, alegrando-nos pelos exemplos e lições deixadas e orando ao Senhor Nosso Deus para que, do alto de sua misericórdia e bondade, os receba no reino dos Céus.
            Muita aconteceu, muitos problemas surgiram, uns foram solucionados, outros equacionados e vários outros empurrados com a barriga.
Teremos um ano difícil pela frente, segundo os diagnósticos de especialistas e dentro da nossa visão. Teremos que ter sabedoria, humildade, sobriedade, calma e muita perseverança para atravessarmos esse mar de incertezas e turbulento que se nos avizinha.
            Ao desejar a todos que fazem o TB, aos que o lêem, aos que não o lêem, enfim a todos homens de fé, ou sem fé, os que crêem e os incrédulos, os afortunados e os menos favorecidos, um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo, quero acrescentar a esses votos, uma receita que acredito poderá nos ajudar: Sorrir.
            Um sorriso, mesmo que seja apenas um esboço, que seja mais breve que o pensamento, desarma  qualquer mau humor.
Vamos sorrir com a chuva, um sorriso molhado. Vamos sorrir com o sol, um sorriso escancarado.
Vamos gargalhar com a piada, mesmo que não seja tão boa, assim sorrimos e fazemos alguém sorrir também.
Vamos sorrir no meio do dissabor, um sorriso com lágrimas, mas um sorriso que diminua o dissabor.
            Na alegria vemos gente sorrir e chorar.
            Pois bem, nas horas difíceis, nas horas tristes vamos chorar, pois não pode ser diferente, mas vamos sorrir também, pois aquele choro demonstra que estamos vivo, lúcidos para compreender o problema e que estamos vivos e consciente do que precisamos fazer e o sorriso nos lembrará que precisamos de força e perseverança para sair dos problemas.
            Quem nesse ano não se lembrará dos sorrisos  das pessoas amadas que se foram, quando nos encontravam, os sorrisos dos momentos festivos, os que o tempo não leva embora, fica na memória, atravessa o tempo, e permanece com a gente toda eternidade.
            Uma imagem que eu não deixo de lembrar é a de uma garoto palestino, que após mais um dos ataques na sua cidade, aparece no meio dos escombros colhendo flores e livros que sobraram, e colhia também dores dos que perderam aquilo tudo e risos dos que souberam aproveitar daquilo enquanto tinham.
            Quando não quisermos ou não soubermos mais sorrir, peçamos emprestado o sorriso daquela criança palestina, que sorria quando tudo parecia ruir.
            Não vamos sorrir para gravar o momento, postar no facebook, no instagram, deixar pendurado em uma parede, preso pelo vidro e moldura.
Vamos sorrir sempre, com vontade, chorando, se alegrando...
            Vamos sorrir, todos os dias, para a maior obra de arte que podemos ter, a vida.


*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense


(TB22dez2014/nº619)

Artigo
O mal do mundo
jornal Turma da Barra


Cezar Braga

"Num mundo onde a violência predomina e alcançou proporções inimagináveis, 
os cidadãos de bem não têm paz para trabalhar, para passear com seus familiares, enfim, para viver com tranquilidade.
"

*Cezar Braga


            Na semana passada eu falei que fiquei algum tempo na rodoviária de Imperatriz e, disse ainda que encontrei um grupo evangélico que falava e distribuía folhetos sobre se o diabo existia ou não.
            Muitos acreditam que o diabo não existe. Outros acham que ele existe, mas fantasiam sobre sua aparência. O fato é que depois de pensar e ler muito, cheguei à conclusão que o diabo existe sim, é bem real, embora não seja visível.
            Do grego diabo vem do verbo diabolos, que significa o que tira de um lado e de outro, que desune, separa, semeia a discórdia. Esse é o diabo que acredito existir, não uma figura chifruda, que cospe fogo e anda com tridente e de vermelho, mas um princípio ou uma força do mal ou do caos que atua no universo e que se aproveitando da incompreensão reinante, das disposições hostis entre os homens, da ganância por poder e riquezas, promove todo tipo de impiedade, opondo-se a Deus e aos homens, gerando a violência desenfreada que se assola por toda parte.
            E, tudo isso, esse diabo que acredito existir, é gerado pela ausência de Deus, pela sistemática redução da compreensão humana, de um convívio saudável e constante das famílias.
            O problema é que se Deus criou todas coisas do mundo, criou também o mal, criou esse diabo, na forma que eu acredito existir? Afinal o mundo é feito de coisas boas e coisas ruins. A quem se deve creditar a criação das coisas ruins, já que as boas sempre são creditadas a Deus? E, se Deus é criador do céu e da terra, não poderá ter criado, também o mal?
            Hermann Hesse, o grande escritor alemão, no livro Demiam, fala do Deus Abraxás: "O pássaro luta para sair do ovo. O ovo é o mundo. Aquele que nasce deve destruir um mundo. O pássaro voa até Deus. O nome desse Deus é Abraxás".
            Eu tinha 15 anos, quando li Demian pela primeira vez. de lá para cá, nesses quase 40 anos já o li diversas vezes, e foi lá que vi a primeira referência sobre esse Deus e sobre a possibilidade de existir um Deus que fosse bom e ruim, como é a vida. Nesse magnífico livro a obediência é Deus, a desobediência é o Demônio.
            Nesse livro o grande Hermann Hesse, ao se referir ao Deus gnóstico Abraxás, representando, além de perfeição, a dualidade do bem e do mal convivendo em perfeita harmonia, as críticas que faz às instituições da família, da Igreja, do Estado me faz pensar numa coisa meio errada, na dualidade maniqueísta.
            Num mundo onde a violência predomina e alcançou proporções inimagináveis, os cidadãos de bem não têm paz para trabalhar, para passear com seus familiares, enfim, para viver com tranquilidade. Moramos entre grades de ferro, portões fortemente guardados, câmeras de vigilância e interfones. Temos medo de sair e de entrar nas nossas casas, nos despedimos das pessoas que vão ao trabalho com o coração apertado e oramos para que elas retornem em segurança, e tudo isso nos leva a um nível altíssimo de estresse, fazendo com que nossa qualidade de vida seja muito pior do que a ideal, não posso deixar de acreditar nessa dualidade e que a única maneira de reduzirmos esse caos é voltarmos para um mundo de compreensão, amizade e amor.
            Temos que voltar para um mundo que deixamos para trás, com menos pressa, mais amor. Com menos incompreensão e radicalismo, com mais tolerância e amizade.
            Temos que reverter essa dualidade de Abraxás, e pensar num mundo só bom, só de amor.
            Temos que voltar a sonhar com a lua, contar as estrelas e amar como os poetas, só assim voltaremos a ter um planeta sem violência.


*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense

(TB2dez2014/nº618)

Artigo
Fugir do trivial da vida para a vida 
jornal Turma da Barra

"Fiquei a viagem toda pensando qual o sentido da vida. 
Definir a vida e qual o seu sentido além de muito difícil, pode ser muito relativo, já que vai depender de muitos fatores."

*Cezar Braga

            Por uma dessas ironias do destino, a empresa que fornece passagens para a UFMA fez uma lambança danada na minha viagem de volta de Imperatriz, não marcando a passagem, não dando opção de outros horários, que atrelado a uma sexta-feira com grande movimentação de passageiros tanto por via área, como terrestre, não me permitiu voltar para São Luis, nem de ônibus leito, nem na classe executiva. Sendo assim voltei no sábado. Passei o dia todo, das 9:20 horas até às 21:00 horas, viajando e, a viajem foi muito boa, sem os contra-tempos tão normais em viagens rodoviárias no Maranhão, como atrasos, muitas paradas fora as rodoviárias, quebras, ar condicionado que não funciona, etc., etc. e tal.
            No sábado, fui cedo para a rodoviária, a coisa tava tão emaranhada, que preferi não arriscar a chegar atrasado, por qualquer outro entrave, e perder o ônibus. Confesso que estava temerário quanto a viagem, já tinha feito outras nada agradáveis. 
            Na rodoviária, já que não consigo mesmo ficar sentado a esperar, fiquei rodando de um lado para o outro. A rodoviária de Imperatriz até que é grande e naquela manhã estava bem movimentada. 
            Andando e reparando nas pessoas. Um casal montou dois suportes, onde colocaram alguns livros e começaram a distribuir panfletos, eram evangélicos e os livros, panfletos e pregação falam se o diabo existia ou não. Algumas pessoas abordadas, paravam e logo mostravam sinais de querem ir embora, mas ficavam ouvindo visivelmente constrangidas. 
            Ao lado do banheiro criaram um elemento em alvenaria, revestido com cerâmica esmaltada, com bancada, quatro tomadas e uma placa: "Carregue seu celular aqui." 
            Os agenciadores gritando a todo momento: Quem vai para Araguaína, saída agora na RPA; Aparecida saindo para Goiánia e por aí ia a ladainha, sempre aos gritos.
            O celular é o elemento mais comum. Nas idas e vindas, sem parar, ouvindo as conversas das pessoas, aliás, pedaço de uma, pedaço da outra, numa divertida colcha de retalhos. Aqui alguém responde que não pode ir, logo na frente outro diz que vai de qualquer maneira, logo um diz que vai sentir saudade, para o outro completar vá se lixar, num tô nem aí. Ficar ligando esses pedaços de conversa, como fosse só uma conversa, só um diálogo fica muito engraçado e ajuda o tempo a passar sem estresse, sem neuras. 
            Logo chega o ônibus e haja mais coisas diferentes, uns trazem lençol, travesseiro, outros, como eu, não esquecessem da água, outros vão logo tirando os sapatos, colocando casacos para se proteger o frio, outros com a sacola de frutas, crianças chorando, brincando com bonecos de super- herói, enfim coisa bem diferentes do nosso cotidiano.
            A viagem não foi cansativa, procurei me divertir com tudo que via de diferente, não diferente como desconhecido, mas diferente do que vivo todos os dias, diferente do caminho de ir e vir para o trabalho, diferente das conversas sérias, nas reuniões, diferentes do cafezinho sem graça e da água sem gosto, servido em bandeja pela mesma pessoa, todos os dias quase sempre às mesmas horas, mesmo que o cafezinho que tomamos em cada parada seja ruim, doce demais, fraco, mas sempre de uma maneira diferente, por uma pessoa diferente, num local diferente, às vezes muita apressado pois de tanto ficar curiando os outros, quase perco o ônibus.
            O fato é tudo que é fica muito habitual, começa a ficar insignificante. É como se vivêssemos com tudo programado: as tarefas, os encontros, os momentos, as palavras, e até os sentimentos. Com o tempo deixamos que percam o valor. Com o tempo não nos resta mais nada, só as horas.
            Fiquei a viagem toda pensando qual o sentido da vida. Definir a vida e qual o seu sentido além de muito difícil, pode ser muito relativo, já que vai depender de muitos fatores.
            Lembrei-me de um filme, "As horas", que assisti já há algum tempo, e é baseado em um livro escrito a partir dos diários da escritora britânica Virginia Woolf. 
           
O filme é montado sobre os diários da escritora, acrescentado das histórias de outras duas mulheres, com os mesmos problemas existenciais da escritora, que se suicidou, só que cada uma em tempo diferente. Vale a pena tentar encontrar em alguma locadora e assisti-lo, eu mesmo vou procurar para ver novamente.
            No fim da viagem, cansado mais satisfeito comigo mesmo, pois chego à conclusão que faz bem descobrir coisas, mesmo não novas, mas que nos tirem do trivial, do comum, pois assim resgatamos outro lado da vida, e mesmo sem descobrir o verdadeiro sentido da vida, não nos deixaremos levar pelo pessimismo, pela irritabilidade da mesmice todos os dias, pela inquietação do marasmo.

*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense


(TB24nov2014/nº617)

Artigo
Dia de finados 
jornal Turma da Barra

"Não fui ao enterro do meu pai, 
nem vivi com ele seus últimos momentos, 
as lembranças que tenho deles são bem mais fortes que as saudades, 
se é que podemos separá-las.
"

*Cezar Braga


O tempo! O passado! Aí algo, uma voz, um canto, um perfume ocasional levanta em minha alma o pano de boca das minhas recordações... Aquilo que fui e nunca mais serei! Aquilo que tive, e não tornarei a ter! Os mortos! Os mortos que me amaram na minha infância. Quando os evoco toda a alma me esfria e eu sinto-me desterrado de corações, sozinho na noite de mim próprio, chorando como um mendigo o silêncio fechado de todas as portas.FERNANDO PESSOA(Bernardo Soares do Livro O Desassossego).


            Nesse 2 de novembro, celebra-se os mortos. É dia de ir ao cemitério, visitar os túmulos, reverenciar os que se foram.
            Eu não vou a cemitério, carrego comigo um dos muitos ensinamentos do meu pai, que já se foi desse mundo, e que dizia: Enterro e casamento eu só vou ao meu, porque é o jeito.
           
Mesmo assim foi ao meu casamento e ao enterro da minha mãe. Eu estava lá nos dois, um porque era o jeito e o outro por devoção, admiração e saudades.
            Não fui ao enterro do meu pai, nem vivi com ele seus últimos momentos, as lembranças que tenho deles são bem mais fortes que as saudades, se é que podemos separá-las.
            Nesse dia de finados de 2014, ano em que muitos amigos se foram, outros estão enfermos, minhas lembranças aos mortos queridos, minha lembranças não foram bem deles.
            Nesse dia, sozinho em casa, acendo velas para iluminar seus caminhos para que se juntem a Deus, se é que já não estão com ele e, para meu espanto, não fico olhando as chamas das velas, trêmulas, miúdas me lembrando deles, mas choro suas ausências, não só por não tê-los mais junto a mim, mas, e principalmente, pela pouca intensidade com que vivi com eles, pelo tempo longe, pelas palavras que deixamos de trocar, pelos carinhos que se perderam no tempo, pelas lágrimas que derramamos sozinhos, pelas lembranças vazias, de como poderia ter sido...
            Saudades, muito mais do que não aconteceu.
            Minhas preces nesse dia de hoje, são muita mais tristes, porque choro, não só a perda, mas a perda do tempo que não vivi com eles...
            Minhas preces estão voltadas para os enfermos, para que deus continue iluminado os caminhos dos que se foram e para que meu pai, minha mãe e minha irmã, me perdoem o tempo que passei longe de vocês.


*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense


(TB3nov2014/nº616)

Artigo
Morte 
jornal Turma da Barra


Dona Enedina Chaves Rodrigues

"Sei que a na hora da morte, querer filosofar parece meio sem sentido, 
mas não podemos esquecer de lições filosóficas de maneiras de lidar melhor com a morte, dadas pelas reflexões finais do filósofo grego Sócrates
"

*Cezar Braga

            Estava eu a compilar os muitos textos iniciados e não concluídos, que prometi fazer uma coletânea sobre as eleições, quando o Mário liga e avisa do falecimento da Dona Enedina, sua sogra e, naturalmente, a mãe da Marluce. Parei o que estava fazendo e comecei a pensar sobre a morte.
            Tinha, como tive, reunião com o Reitor às 10 horas e lá ele me disse da morte de três médicos no dia anterior, dois colegas dele de faculdade e uma professora, portanto mortes em gerações diferentes, mas que são apenas mortes, simples assim.
            Assim sendo falar da morte nessa página que, me propus falar sobre o cotidiano, não tem nada de mais, até porque nos últimos meses a morte tem sido o cotidiano na família de amigos, portanto no nosso.
            Nesses últimos meses a vida nos privou do convívio do Seu Jaldo, do Seu Louro, do Seu Carlos Augusto, Eurico Faria e agora Dona Enedina, que Deus acolha a todos na sua infinita bondade, mas o fato é que a vida continua e temos que encarar a morte como cotidiano, não como um tabu, algo inaceitável e, principalmente, como sendo um sofrimento que só é nosso, a morte chega para todos os lares, todas as famílias, ela é inexorável e, começa quando começamos a existir.
            A morte começa quando a vida se inicia, portanto faz parte da vida, do cotidiano.
            O poeta Urias viu a morte como donzela doce, meiga e morena. É a alma do poeta, mas não muito longe da realidade, já que ela pode ser loura, alta, baixa, serena, apressada, rude, mas sempre definitiva e real, já que não podemos negá-la, nem muito menos dela fugir.
            Não podemos ver a morte como um evento exclusivo, pessoal, como se o sofrimento fosse o único, que isola quem sofre uma perda, por meio da dor, do resto do mundo.
            Não, a verdade nos diz o contrário, não há nada menos exclusivo do que a morte, ela chega a todos da mesma maneira, e não existe nada mais inerente a todos do que o sofrimento de uma perda.
            Sei que a na hora da morte, querer filosofar parece meio sem sentido, mas não podemos esquecer de lições filosóficas de maneiras de lidar melhor com a morte, dadas pelas reflexões finais do filósofo grego Sócrates – condenado a tomar cicuta, um veneno letal –, realizadas no século V a.C., e que representam um excelente exercício de aceitação. “Porque morrer é uma ou outra destas duas coisas. Ou o morto não tem absolutamente nenhuma existência, nenhuma consciência do que quer que seja. Ou, como se diz, a morte é precisamente uma mudança de existência e, para a alma, uma migração deste lugar para outro”, afirmou Sócrates.
            Em outras palavras: para quem não acredita na continuação da vida, a morte é o nada, é a ausência completa de angústias e desesperos, é o fim das aflições. E para quem acredita na continuação da vida, a morte é a passagem desta existência para outra melhor. De qualquer modo, a dor estaria na vida e não na morte.
            Quando chegou o momento de beber o veneno, Sócrates disse a seus discípulos, numa última lição: “Mas já é hora de irmos: eu para a morte e vocês para viverem. Mas quem vai para melhor sorte é segredo, exceto para Deus.”
           
Que Deus, na sua infinita bondade receba os nossos irmãos e irmãs falecidas e, que na sua não menos conhecida caridade, se apiede desse escriba, quando sua hora chegar.


*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense


(TB20out2014/nº615)

Artigo
Vontade e desejo
ou dilemas dominicais
 

jornal Turma da Barra

"Acho que os problemas do dia-a-dia me embotam a razão, entre um ou outro tema, os processos pendentes, as obras com seus prazos atrasados, os aditivos borbulhando sempre retornam ao pensamento e não me deixam alternativas para escrever."

*Cezar Braga


            Vontade de sair, flanar pelas ruas de São Luis. Desejo de ficar em casa, sem fazer nada.
            Em um momento quero voltar a dormir, e no mesmo instante desejo estar bem acordado.
            Coisas de uma mente confusa, nesse domingo modorrento e parado.
            A minha vontade de escrever é tão grande que às vezes atrapalha. Acabo misturando essa enorme vontade, com o desejo de escrever sobre todos os temas que me afloram e é aí que a bagunça mental se instala e haja paciência para ordenar os pensamentos, limitar a ansiedade e poder escrever alguma coisa.
            Ler ou escrever, sair ou ficar, ir ou não, eis o dilema dominical.
            Disperso para ler. Abro "Primeiras estórias", de João Guimarães Rosa, paro na primeira, "As margens da alegria", quando o mestre genialmente diz: "E as coisas vinham docemente de repente, seguindo harmonia prévia, benfazeja, em movimentos concordantes: as satisfações antes da consciência das necessidades.". Nem isso me tira da angústia da dúvida do que fazer, nem me anima a continuar.
            Abro "Crônicas", obra jornalística de Gabriel Garcia Marquez,  e encontro algum alento quando leio a crônica "Sim: A nostalgia continua a mesma de antes.", quando ele confessa; " Essa tarde, pensando tudo isso diante de uma janela triste onde cai a neve, com mais de cinquenta anos nas costas e ainda sem saber quem sou, nem que porra faço aqui, tenho a impressão de que o mundo foi igual desde meu nascimento até que os Beatles começaram a cantar."
            Nem sabendo que o grande escritor tinha seus momentos de angústia, consigo ler a próxima crônica dele, até porque vem falar de algo que não quero, pelo menos hoje, nem lembrar. A crônica é "Estes natais sinistros."
            Começo a ler Clarice Lispector, volto para João Guimarães Rosa, Gabriel Garcia Marquez, enveredo pelo romance-aventura, "Vingança em Paris”, de Steve Berry, mas nem isso me anima a dar continuidade a nenhuma leitura.
            E assim o domingo vai indo, quente, frio, sem emoção...
            Chega a revista Conhecimento prático - Literatura, com ênfase para a presença feminina nas letras brasileiras, traz Cecília de Meireles, Hilda Hist, Clarice Lispector, Sandra Bozza e outras boas reportagens, como sempre. Tento ler, mas fica para depois.
            Volto a escrever, tenho que superar esse embate entre o querer escrever e o desejo de não escrever sobre esse ou aquele assunto.
            Acho que os problemas do dia-a-dia me embotam a razão, entre um ou outro tema, os processos pendentes, as obras com seus prazos atrasados, os aditivos borbulhando sempre retornam ao pensamento e não me deixam alternativas para escrever.
            Parece que minha alma está sem eira, nem beira, parece que essa serenidade que tenho dentro de mim, é um erro.
            O texto que ensaio na mente é bom, completo, até que começo a escrever. Tenho que tentar, tenho que afastar esse impasse e escrever, escrever e escrever.
            Passo a vista sobre esse texto e o elejo como o texto desse domingo, para a segunda do TB.


*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense

(TB13out2014/nº614)

Artigo
Pós-eleição 
jornal Turma da Barra

"Independente de quem ganhar essas eleição, tenho a certeza que tudo continuará como antes, 
mas uma coisa é certa, voltaremos ao prazer de tomar um cafezinho, prazer que resgatei e me deixa bem satisfeito"

*Cezar Braga

            Estou escrevendo nesse domingo de eleição, quando ainda não sabemos os resultados, mas com a certeza de ter passado ileso às campanhas pífias e sem graça, consegui me segurar para não postar nas diversas redes sociais respostas às idiotices ali colocadas, me segurei para não perguntar a amigos onde tinha ido seu bom senso e inteligência, pois li muita coisa de arrepiar cabelos, li pessoas cultas e entendidas passarem por idiotas (porque sinceramente não acredito que sejam, ou que emburreceram, afinal não sei de ninguém que seja ex-inteligente) ao admitir e acreditar que só os seus candidatos ou assessores e comandados digam, falem a verdade.
            Pois bem, me segurei para não escrever sobre isso, aliás para não mandar para publicação, pois bem que escrevi e foram muitas páginas sobre essa eleição e seus desdobramentos.
            Bom, enfim acabou e cabe repetir, já que ainda não temos definições e a eleição mal começou, o general romano Julio Cesar, que disse às margens do Rio Rubicão, ao se lançar para invadir Roma,"Alea jacta est.", ou seja "A sorte está lançada."
            Aliás, para quem gosta de detalhes, a frase entrou para a história naquele dia, mas não era nada mais do que um jargão extremamente usado em Roma, nas rodas de jogo de dados, muito comum naquela época.
            Independente de quem ganhar essas eleição, tenho a certeza que tudo continuará como antes, mas uma coisa é certa, voltaremos ao prazer de tomar um cafezinho, prazer que resgatei e me deixa bem satisfeito, numa boa roda de amigos, sem que a política seja a tônica. Voltaremos às conversas amenas, que nem aquela conversa de compadres, tão comuns nos interiores, quando nas visitas o cafezinho é obrigatório, passado na hora, sem máquinas expressa e sem adoçante.
            Assim como cafezinho, uma roda de cerveja também é salutar.
            A farra começou... Continuo na próxima segunda.

*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense


(TB06out2014/nº613)

Artigo
As paredes falam
jornal Turma da Barra

"Ali no meio da sala, decidido a reformar tudo, mantendo-a o mais próximo da original, as lembranças iam de cômodo a cômodo, as brigas com os irmãos mais novos, a mediação das brigas entre os irmãos, sempre querendo imitar seu pai.*Cezar Braga

            Passaram-se mais de 50 anos, desde a última vez que ele esteve na casa. Hoje na sala, a sujeira, a poeira domina, Nada lembra a sala limpa, com os móveis brilhando, cheias de bibelós, as paredes bem pintadas com quadros de pontes, de jardins, de canoas...
           
Passando a mão nas paredes, com reboco caindo, as lembranças chegavam aos montes, desengonçadas, embaralhadas, confusas...
            As paredes pareciam lhe falar e aos poucos as idéias iam se ordenando e refazendo a história ali vivida, ou melhor dizendo, observada, pois naquela época ele não vivia a história, apenas assistia seu pai fazer a história, apenas observava a história acontecer.
            Ele, hoje com seus 84 anos, mais experiente,
se lembrava com carinho do menino que aos seus 12 anos, e naquele tempo quem tinha 12 anos era menino mesmo, daqueles que era obrigado a sair da sala, pois a conversa era de adulto, ficava no corredor comprido e largo, bem espremido na parede ouvindo as conversa dos adultos.
            Daquele jeito ouvia na sala discussões políticas, que só mais tarde iria compreender, com seu pai conduzindo as conversas com segurança, decidindo, mesmo contra os resmungos de uns e aprovação de outros, ouvia muitas vezes o pai, sem a dureza dos assuntos políticos, ponderando com maridos e esposas descontentes, traídos ou traídas, levando o bom seno e evitando separações, brigas.
            Daquele jeito, também, ouvia as conversas dos pais, acontecidas no quarto de casal, o maior da casa, quando ele contava à sua mãe, do jeito dele, os casos, os desencontros e desavenças. e sua mãe, lhe apoiava em todas as decisões.
            Sua mãe era uma mulher de fibra, inteligente. Naquela época achava que ele era fraca e concordava com tudo que seu pai fazia, decidia. Com o tempo foi entendendo que sua mãe não era nem fraca, nem submissa, apenas não discutia, nem discordava das decisões que seu pai tomava em relação à política e nos casos dos outros, mas em relação às coisas da família, os negócios, a educação dos filhos, era dela a última palavra.
            Ali no meio da sala, decidido a reformar tudo, mantendo-a o mais próximo da original, as lembranças iam de cômodo a cômodo, as brigas com os irmãos mais novos, a mediação das brigas entre os irmãos, sempre querendo imitar seu pai.
            O velho e grande corredor, onde aconteceram os primeiros contatos com a bola, sempre presente na sua infância, embora o bom de bola fosse seu irmão, logo mais novo que ele.
            A grande sala de jantar, no famoso e sempre concorrido almoço do domingo, galinha com pirão de parida, prato tradicional dos domingos, fizesse chuva ou sol.
            Logo depois a cozinha, com um fogão a lenha, que a D. Alice, a preta velha, preferia ao novo e reluzente fogão à gás, quase nunca usado. A cozinha era seu lugar preferido quando seu pai não estava em casa e ele não estava no colégio. Lá ele aprendia com D. Alice, as coisas que não lhe ensinavam na escola, coisas que lhe ajudariam muito durante toda sua vida.
            Depois da cozinha, uma área descoberta e, logo depois uma área coberta, com piso de tábuas, cobria um grande cacimbão, que garantia o abastecimento de água para a casa, e o galpão servia para guardar as quinquilharias, para a D. Alice engomaras roupa, numa tábua improvisada, ferro de engomar à brasa. Nesse valho galpão, as histórias de trancoso da D. Alice, rolavam soltas, enquanto o pesado ferro deixava as silaques do papai bem engomadas, as nossas fardas azuis no ponto, as saias plissados de sua mãe impecáveis.
            Lembrando das coisas, lembrando da D. Alice, a preta velha, que era cozinheira, ama, babá, conselheira, amiga, criança como ele, adulta como seus pais, amiga como seus irmãos, ele recordou outro negro, esse famoso mundialmente, Nelson Mandela, que disse: "Não há nada como regressar a um lugar que está igual, para descobrir o quanto a gente mudou."


*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense

(TB01set2014/nº612)

 

Artigo
Lembranças e lembranças
jornal Turma da Barra

"As lembranças boas deixam saudades, vontade de voltar a acontecer e as más o que trazem?
            Trazem a certeza de que a vida é feita de coisas boas e más
"

*Cezar Braga

            Sempre estou a lembrar das coisas boas de tempos passados. As lembranças fluem, as pessoas revivem, as cenas voltam vivas e relembram os casos e acontecimentos.
           
É sempre prazeiroso (re)viver essas lembranças, onde tudo é alegria, festa, descobrimentos...
            Essa semana encontrei o Damião, um amigo e primo que relembrou passagens importantes do nosso convívio de Liceu, das peladas nas ruas de areia e nessa esteira de lembranças outras vieram e outros tempos chegaram, já que nas lembranças o tempo não tem fronteiras e nos permite descobrir como alguns fatos sem importância quando aconteceram, se revestem de importância muita grande em outros que vieram acontecer depois de algum tempo.
            É claro que só as lembranças boas interessam e alegram, mas no meio delas é impossível não surgir lembranças dos nossos erros, nossos insucessos.
            E, quando surgem, normalmente as deixamos ir, direcionamos nossos pensamentos para o que nos interessa, nos traz alegrias.
            Mas, se em vez de deixarmos ir, resolvermos passá-las a limpo, veremos o quanto deixamos a desejar na busca do sucesso, da realização.
            Quantas vezes nos deixamos levar por momentos de prazer, de lazer fora de hora, sem pensar nas consequências que esses momentos poderão acarretar no futuro, ou então, mesmo sabendo disso, dizemos para nós mesmos, que somos jovens, temos tempo para recuperar.
            Só muito depois, quando a idade pode ser traduzida em experiência é descobrimos que tempo perdido, é realmente perdido.
            Na calada da noite, com dores nas costas, sem nenhuma razão aparente, que não me deixava dormir, nem pensar em coisas boas, me fez refletir sobre meus erros, não os que foram cometidos por inexperiência ou circunstanciais, mas aqueles que eu poderia ter evitado, não os ter cometido baseado na premissa falsa que depois eu recuperaria.
            Até a dor física ameniza, quando nos propomos, não a reparar os erros, já que isso seria impossível, mas a admiti-los, e admiti-los como motivo de não termos alcançado alguns objetivos na vida.
            O interessante dessas lembranças, mesmo reconhecendo os erros, mesmo admitindo que se eles não fossem cometidos teríamos alcançado alguns objetivos traçados, ou outros que logramos concretizar, teriam sido concretizados mais cedo, é que sempre nos trazem no bojo das tristezas, alegrias escondidas, aquele prazer de ter feito, mesmo estando errado, que dá até um gostinho de achar que não foi tão grave assim, afinal não matamos, não roubamos os outros, só um pouquinho de nós mesmos.
            As lembranças boas deixam saudades, vontade de voltar a acontecer e as más o que trazem?
            Trazem a certeza de que a vida é feita de coisas boas e más e que vivida com intensidade e inteligência, podemos aproveitar tanto o que ela nos proporciona de bom, como o que fazemos de errado, é só querer, é só ter coragem de tirar lições dos erros e, também, dos acertos, para não deixar que os sucessos e vitórias nos engessem, como nada mais fosse acontecer.
            A vida é um cotidiano que se repete, diferente a cada instante.


*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense

(TB218ago2014/nº611)

 

Artigo
Coisas do domingo
jornal Turma da Barra

"Infelizmente, somos julgados como cristão se vamos ou não a igreja com assiduidade, 
e não pelo bem que fazemos a alguém, pela caridade que aplicamos e pela compreensão que temos pelos problemas dos outros e como agimos nesses momentos.
"

*Cezar Braga

            Domingo cedinho, saio procurando uma barbearia, queria cortar o cabelo e, aqui em São Luis, muitos estabelecimentos não abrem no dia santo da semana.
            Na hora que saí, as ruas estavam quase vazias, os carros preguiçosos, quase tudo fechado.
            O sol já quente, parece ser o único que não demonstra preguiça nesse domingo dos pais.
            Só as padarias mostravam movimento. Aliás, nada mais do que normal, afinal pão quentinho pela manhã, é a coisa mais normal nessa cidade de todos, um domingo especial para alguns, saudades para outros e para muitos nem o pão nosso de cada dia... Nem nesse dia.
            Encontro uma barbearia lá pelo Bequimão., a Barbearia do Célio.
            Sento, já sou o quarto e fico lendo sem prestar muita atenção no que leio, mas atento ao que ouço. Conversas de barbearia sempre rendem.
            Falam de política. Para variar, metem a ripa na família Sarney, lhes creditam fortunas, empresas... Esquecem de falar em seus candidatos, nas suas propostas (se é que têm)... As velhas coisas da política maranhense, cada vez mais sem sentido, sem bons candidatos, sem eleitores conscientes e, naturalmente, sem perspectivas e sem horizontes.
            Chegou minha vez, sentado na cadeira, não leio, nem presto mais atenção nas conversas, deixo minha imaginação vagar sem lhe dar um rumo, nem lhe induzir.
            Ela repassa o encontro pela UFMA em Barra do Corda, na reitoria, já que recebi puxão de orelhas do editor do TB, por não ter informado sobre essa reunião, mas é que tive que viajar para abaixada logo no dia seguinte e acabei esquecendo, mas a reunião foi muito esclarecedora e aumentou minhas esperanças de logo termos a UFMA em Barra do Corda.
            Sai da barbearia, o trânsito mais intenso, alguns estabelecimentos de porta aberta, a cidade acordava de vez.
            Lembro que devo escrever para a segunda no TB, já não mando crônicas, nem artigos há duas semanas, mas não é preguiça, é que tenho dedicado muito tempo ao meu primeiro romance, que já está bem adiantado, mas a cada passo que avanço, novos rumos ele que tomar, não me deixando o levar e, já quase me orientando, me mostrando o caminho... Uma tarefa mais árdua do que pensei.
            Passo em frente à igreja que fica entre o Bequimão e o Angelim. Paro o carro e fico observando os fiéis saindo, uns rindo, outros mais compenetrados, pessoas e pessoas.
            Paro o carro, me dá vontade de entrar na igreja, mas as pessoas saindo, outras entrando, o movimento me faz desistir da idéia, talvez porque já me acostumei a estar na igreja dos remédios, pela manhã, todos os dias da semana em que vou às obras do Centro, sempre sozinho, quando nada pode me tirar a concentração, sem ser obrigação e nem ser estar na igreja só para que os outros me vejam lá.
            É que, durante a minha vida quase nômade, vi e continuo convivendo com pessoas que frequentam muito a igreja, vivem fazendo obras e encontros, mas são incapazes de atos e palavras de amor, de compreensão, de misericórdia, limitando-se a achar que assistir missa, rezar o terço está lhe garantindo o reino dos céus.
            A igreja está em cada um de nós, desde que acreditemos em Deus, como senhor, como criador e sejamos capazes de atos e palavras de amor ao próximo, sem que exista laços de amizade, de parentesco com ele; de caridade, sem escolher quem e como; de misericórdia, que nada mais é do que ter a capacidade de sentir o que nosso semelhante está sentindo, para aproximando seus sentimentos ao de alguém, podermos ser solidários e ajudar as pessoas.
            Infelizmente, somos julgados como cristão se vamos ou não a igreja com assiduidade, e não pelo bem que fazemos a alguém, pela caridade que aplicamos e pela compreensão que temos pelos problemas dos outros e como agimos nesses momentos.
            Sou cristão convicto, não vivo em igreja, mas procuro fazer o bem, sem olhar a quem.
            Nesses dias em escrever tenho me deliciado com as crônicas do Borginho, do Eduardo Galvão, do Wilson Leite que retratam lugares, pessoas, momentos sobre a Barra do Corda que nos deliciam.
            Parabéns a todos!


*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense

(TB211ago2014/nº610)

 

Artigo
Perguntas
jornal Turma da Barra

"Ser bom não está só nas nossas atitudes, 
mas sim se olhamos para os outros, para sua atitudes e idéias com o coração, com compreensão, com tolerância, com paciência, sem submissão ou omissão.
"

*Cezar Braga

            Tem dias que me pego fazendo um balanço dos meus 64 anos de vida. O que fiz de bom? O quanto fui de útil aos meus semelhantes? O quanto eu gostei de mim mesmo? Sou ou fui feliz? Caso não, ainda serei? Fiz alguém feliz? Consegui sucesso nas minhas empreitadas? E as derrotas, foram muitas, contundentes, amenas?
            Pensar já é uma coisa complicada, já que o pensamento voa, tem vida própria, às vezes se rebela e vai para onde menos nós esperamos, imagine pensar à procura de respostas às perguntas acima.
            Logo o pensamento faz um rasante e começo a pensar o que é preciso para ser bom?  O que é ser útil? O que é ser feliz? O que é felicidade? E o sucesso, o que é, o que representa nas nossas vidas?
            Ter essas respostas, sejam elas as que forem, é muito difícil. Elas podem machucar, desviar do rumo e impelir a novas perguntas, que aparecem para esconder a realidade das respostas e, ficarão, também, sem serem respondidas.
            O pensar a que me refiro, não aquele tempo que nos damos para responder uma questão do trabalho, do dia-a-dia... Nem aquele que, quando estado alheio ao mundo, alguém nos puxa para a realidade e, quase imperceptivelmente, respondemos: Estou pensando. Nesse momento, se esse alguém perguntar: Em quê? Na verdade faremos cara de bobo, ou inventaremos qualquer coisa.
            Não, não é esse o sentido do pensar que escrevo hoje.
            O pensar a que me refiro, é aquele pensar em tentar compreender o mundo através da nossa própria realidade, o pensar a que me refiro é aquele que transcende às nossas próprias características, para tentar ampliar nossos conhecimentos, é aquele pensar, que não se resume à razão, à lógica, para poder melhor assimilar, compreender toda realidade das experiências vividas.
            O pensar que me refiro é um pensar filosófico, procurando a verdade de tudo, sem se preocupar com a dor ou o sofrimento, é um pensar metafísico, em que deixamos o particular, rumo ao geral, do acidental ao substancial, da existência à essência.
            Mas, vamos responder as perguntas uma de cada vez, á luz da realidade.

            Para responder a primeira pergunta (O que fiz de bom?), temos que definir o que é ser bom.
            E ser bom não é apenas fazer seu trabalho bem feito, quer seja no escritório, em casa ou onde quer que seja...
            Ser bom não está só nas nossas atitudes, mas sim se olhamos para os outros, para sua atitudes e idéias com o coração, com compreensão, com tolerância, com paciência, sem submissão ou omissão.
            Ser bom é olhar para nós mesmos com amor, com auto-estima, com auto-confiança, mas com coragem para se auto-criticar e se corrigir.
            As outras perguntas responderemos nas próximas crônicas.
            Uma boa semana e procurem refletir sobre esses assuntos, vale a pena, é prazeroso, antes de ser sofrido.


*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense

(TB21jul2014/nº609)

 

Artigo
Seu Louro
jornal Turma da Barra

 

"Muito católico, eu brinquei demais com ele. 
Eu dizia, brincando, que depois que ele tinha voltado de uma viagem à Itália, ele não rezava mais dizendo: Deus, eu te amo. Agora era assim: Dio, como te amo! Ele ria alto e feliz.
"

*Cezar Braga

            Cheguei a Imperatriz, na segunda-feira, dia 30 de junho, para uma reunião às 8 horas no campus da UFMA.
            Minha intenção era tão logo terminasse a reunião ir ao hospital, onde se encontrava internado meu amigo Lourival Pacheco, mas fui surpreendido, antes do fim da reunião, pela notícia do seu falecimento.
            O Seu Lourival Pacheco, Seu Louro, Lourinho como era carinhosamente conhecido, foi uma dessas pessoas que se gosta só por ele está ali, não precisa ser parente, nem amigo, bastava conhecê-lo para dele se gostar.
            Tive o prazer enorme, de ter convivido com ele por anos.
            Era uma pessoa sempre alegre, sorridente, brincalhão, trabalhador, presente, responsável, probo e trabalhador.
            Era uma pessoa que por onde passava contagiava as pessoas com sua alegria, com seu sorriso de menino. Foi uma das pessoas mais alegre que conheci.
            Muito católico, eu brinquei demais com ele. Eu dizia, brincando, que depois que ele tinha voltado de uma viagem à Itália, ele não rezava mais dizendo: Deus, eu te amo. Agora era assim: Dio, como te amo! Ele ria alto e feliz.
            Quantas vezes trocamos idéias no mercado, enquanto tomava café com bolo frito, cuscuz de arroz.
            Quantas vezes me quedei apreciando sua habilidade de dançarino, dando show na AABB.
            Uma vez, era seu aniversário, e passei na sua casa para lhe cumprimentar, quando de repente insurge na varanda, Régis Falcão, Batucada, Biquinho, com seus instrumentos musicais, o cavaquinho, pandeiro e sanfona a festa estava feita.
            Foi um pai exemplar, chefe de uma família feliz. Foi um político sério. Foi um homem extrovertido e desprendido. Na sua profissão de contador ensinou há muitos o ofício, sem esconder nem o pulo do gato. Teve discípulos, que hoje trabalham do mesmo ramo, e são profissionais competentes, como seu filho Célio e o Chico, até hoje conhecido como o Chico do Louro.
            Descanse em paz meu amigo! Leve sua alegria para Deus, que tenho certeza absoluta que está de braços abertos a lhe esperar.
            E que esse mesmo Deus, que está lhe recebendo nos céus, traga o conforto para toda família.

*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense


(TB7jul2014/nº608)

 

Artigo
Procura-se um herói
jornal Turma da Barra

 

"Para o brasileiro sofrido, que vive de esperança, alimentado eternamente pela mentiras deslavadas dos político, a maneira de sobreviver a tantas privações, é eleger um herói, é venerar um ídolo, é idolatrar o sofrimento"

*Cezar Braga

            O Brasil sempre andou à procura de heróis. É assim que analiso esse desespero de pessoas comuns, de políticos, de emissoras de tv para promoverem qualquer um, que se destaque minimamente em qualquer coisa.
            Sabemos que no Brasil as coisas sempre foram um pouco atrapalhadas. Desde o início há controversas, como diria um personagem do Chico Anísio, um dos heróis populares desse imenso país.
            Pois é assim, humorista vira notícia, jogador de futebol, então nem se fala, jogou um pouquinho, é herói na certa, atriz ou ator, principalmente de telenovela, além de ídolo vira herói, heroína.
            Para o brasileiro sofrido, que vive de esperança, alimentado eternamente pela mentiras deslavadas dos político, a maneira de sobreviver a tantas privações, é eleger um herói, é venerar um ídolo, é idolatrar o sofrimento.
            Pois bem, é nessa esteira que os pseudo heróis pontificam, uns ungidos pelos meios de comunicação, que tem uma rede Globo, capaz de alterar as ordens das coisas, senão vejamos:
            Não fosse assim o Oscar teria jogado melhor do que o Neymar, herói da vez, na estréia da Copa do Mundo desse ano;
            Quem fez o Fábio Junior um cantor? E por aí vai.
            Foi nesse diapasão que o povo elegeu seu herói político, o caçador de marajás Fernando Collor de Melo, Presidente da República e vejam no que deu.
            É como herói que as propagandas do PT mostram o Lula e a Dilma, que se quisessem realmente acabar com a fome do mundo, não precisaria perdoar dívidas de outros países, já que ninguém perdoa as nossas, não precisaria investir bilhões de reais em refinarias em Cuba ou EUA, deixando as do Maranhão e Ceará e ver navios, precisaria tão somente, acabar com a fome no Brasil, que a ajuda para acabar com a fome do mundo estaria de bom tamanho.
            O senador Sarney tenta tirar proveito do pênalti marcado para o Brasil, no jogo contra a Croácia, para tentar, mais uma vez, se endeusar, endeusando a filha, santificando o reinado da família no Maranhão e tentando usar estatísticas diversas para justificar seus pontos de vistas, como se bananas, abacaxis, pepinos e laranjas fossem uma mesma coisa.
            É a mania de se fazer heróis, aproveitando-se do sofrimento do povo, que prefere rir das piadas que se multiplicam a cada instante e que se proliferam na criatividade de um povo, que transforma a decepção e privação em piadas bem humoradas e bem construídas.
            Taí um monte de heróis, esses milhões de brasileiros, que largados à própria sorte, preferem ficar fazendo piadas, em vez de exigir as melhorias necessárias.
            Quero lembrar que considero essas demonstrações contra a copa do mundo, piadas, só que de extremo mau gosto. Pois, se o governo atrasou anos no início das obras dos estádios, que aí estão e das obras de mobilidade urbana, que se arrastam, assim como todo brasileiro que sai para trabalhar todos os dias, o povo se atrasou muito mais em protestar no momento certo, e não quando a coisa se mostrava irreversível.
            A lógica nos ensina a prevenir, a evitar que o errado aconteça. Para se fazer entender melhor, já que estamos no país da piada solta, quero dizer que devemos evitar o estupro, mas se for inevitável, relaxe e goze.
            É assim que nós estamos fazendo, gozando as folgas, juntando amigos para ver jogos, bebendo muitas, comemorando gols, esperando a final, aliás, o quê?
            Em tempo: No ano em que bruxa está solta no meio artístico-cultural, mais um homem ligado à cultura maranhense se foi, o escritor às vezes polêmico, às vezes irreverente, mas sempre brilhante, Ubiratan Teixeira.


*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense


(TB16jun2014/nº607)

 

Artigo
Carlos Augusto Franco
jornal Turma da Barra

 

"Parando para pensar nele [Carlos Augusto Franco], vejo aquela figura elegante no vestir, no tratar, 
caminhando em um domingo desses, entre as quadra de Brasília, onde eu e meus e seus amigos, até maiores que eu, bebíamos umas e outras em um bar
"

*Cezar Braga

            Seu Carlos Augusto Franco morreu! E, com ele, morre um pouco da história de Barra do Corda, da coragem de enfrentar políticos, da época, com uma arma pouco usado desse meio: o trabalho, a seriedade e, principalmente, a honestidade.
            Eu, o conheci pouco, portanto falo nesse episódio político, alicerçado em depoimentos de pessoas que viveram à época e me falaram sobre o assunto, e esses depoimentos me foram dados por adversários e amigos, e em período muito antes do seu falecimento, portanto idôneos e reais no tempo e espaço.
            Em uma conversa amena, com o então chefe da Casa Civil do governo do estado do Maranhão, o engenheiro agrônomo Lourenço Vieira Tavares da Silva, até já contei sobre essa conversa em uma crônica de 22.08.2005, quando relatei: No inicio da reunião disse que nunca deveríamos falar que as coisas estão ruins, que não tem jeito, que estamos no fundo do poço, que nada vai dar certo, pois poderia aparecer um anjo da boca mole dizendo amém e aí, realmente, a vaca vai pro brejo.
            Nesse mesmo dia, nessa mesma conversa, ele me revelou que, sendo ex-secretário de agricultura do Maranhão (1967-1970), fundador da ARENA, foi designado para coordenar campanhas de prefeitos do interior do estado, e que em Barra do Corda tinha encontrado uma eleição diferente: De um lado a juventude e a vontade de mudança do candidato da oposição (MDB), Fernando Falcão e do outro, o candidato que ele apoiava, um homem sério, honesto e que não se valia dos truques políticos em voga até nos dias de hoje, Carlos Augusto Franco.
            Ele, encerrou essa passagem dizendo que Carlos Augusto perderia a eleição e Barra do Corda, um grande prefeito.
            Além desse depoimento e muitos testemunhos da integridade e caráter do Carlos Augusto, Felizmente, não tenho maiores dados sobre o homem público, mas me sobram, não dados, mas testemunhos do pai amoroso, avô extremado e amigo dedicado. |
            Amigo, que embora, relativamente recente, com pouco tempo convivência, pude ter o prazer e privilégio de desfrutar dessa amizade.
            Parando para pensar nele, vejo aquela figura elegante no vestir, no tratar, caminhando em um domingo desses, entre as quadra de Brasília, onde eu e meus e seus amigos, até maiores que eu, bebíamos umas e outras em um bar. Lembro dele, em uma festa da Renata, neta, filha da Kádja e Norton, no colégio Marista, quando conheci sua atual companheira, a Zilmá, com a alegria estampada de avó, a elegância de sempre e a educação esmerada.
            Outra lembrança que se faz forte, é a de uma conversa sobre política, a única que tivemos sobre o assunto, na casa da Kádja e do Norton, sobre a gestão do prefeito, quando eu trabalhava na Prefeitura, quando tive a dimensão real do homem público que era e o que ele poderia ter representado em avanço econômico e de transparência se tivesse sido eleito prefeito.
            A lembrança que se faz mais forte nessa hora de escrever sobre ele, é a mais recente, numa tarde de domingo, em que tive o privilégio de participar do lanche da tarde, entre as filhas, genros e netos, e amigos, já que lá conheci o irmão do genro Luciano, a paciência, o amor pela família e, principalmente, pelo carinho com os netos, quando em dado momento nos isolamos em um quarto do apartamento, para junto com os filhos da Munira, a filha mais nova, e do Ernesto, o genro italiano, assistir as pegadinhas do Faustão, que os meninos imitavam rolando pelo chão, em cima dos sofás, numa alegria só, capitaneada pelo avó dedicado.
            Deus deve ter lhe recebido com as pompas dos justos, e a alegria dos que aqui na terra cumpriram, e bem, sua missão.


*Cezar Braga é presidente da Arcádia Barra-Cordense

(TB2jun2014/nº606)

 

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