Uma crônica para a história
de Barra do Corda


*por Heider Moraes

   
            Em maio, precisamente no dia três, Barra do Corda comemora o seu aniversário. Com certeza é um feriado municipal. Todos nós barra-cordenses estamos em festa. Mas é hora não somente de festas. Também de reflexão. De lembrar a história. De saber e ter ciência da real importância desta data. Também do significado desta cidade para os cordinos, para o Maranhão, para todo país.

            Mas sobretudo é tempo de lembrarmos do fundador, Manoel Rodrigues de Melo Uchoa. De todos àqueles que participaram em três de maio de 1835 da expedição que declararia fundada Barra do Corda no porto da Sapucáia. Melo Uchoa, comandante-em-chefe, trazia consigo várias outras pessoas. Inclusive um grupo de índios Canelas. Assim, nossas homenagens a todos àqueles primeiros habitantes.

         ? ;   Vamos aos fatos. É bom registrar que Barra do Corda não fora escolhida por acaso. Após a independência do Brasil, em 1822, estourava aqui e ali levantes e revoltas pelo país. A cidade de Pastos Bons, no sul-maranhense, próxima ao Piauí, fora uma das que chegaram a proclamar independência. O levante, é bem verdade, fora dominado. Mas era preciso estar vigilante. Para isso, o governo maranhense procurou fundar uma cidade próxima a Pastos Bons. Contratou então o cearense Melo Uchoa, que vinha de uma experiência militar na cidade piauiense de Campo Maior. De um entrave igualmente político-ideológica. Uchoa saíra vitorioso daquela que a história batizou de batalha do Jenipapo.

            Apesar da proposta eminentemente militar e estratégica de Barra do Corda, outros fatos mudariam o destino de cidade. Do porto Sapucáia, que fica "x" com o hoje balneário Guajajara, Melo Uchoa após declarar fundada àquela que primeiramente se chamaria Santa Cruz, depois Barra do Rio da Corda, começara imediatamente com um facão, a demarcação da cidade. Dividiu-a em quadras de 100 metros, voltadas para a nascente. Sabe-se também que este vale, onde está localizada Barra do Corda, fizera de Melo Uchoa o primeiro apaixonado. O que seria apenas uma expedição, se tornou um caso de paixão. Uchoa investiu todas as suas economias e fincou moradia até o final de sua vida na cidade cordina.

            O fundador Uchoa vivera em Barra do Corda durante 31 anos. Entre 1835 até 1866. Doou toda sua vida a desenvolver a cidade. Trouxe além dos familiares, amigos cearenses. Não somente os conterrâneos de Nossa Senhora de ? Assunção, sua terra natal. Também de outras cidades cearenses. Uchoa vendia a imagem da cidade como de um oásis. Que realmente era.  E antes de falecer ainda conseguiu convencer o Estado maranhense a reconhecer Barra do Corda como vila. Na qualidade de município, somente um pouco mais tarde, na década 90, no final daquele século XIX.

            Mas Barra do Corda nunca dependeu totalmente do estado maranhense. Extrapolou ora politicamente, ora economicamente. E muito mais socialmente. Atraiu empresários, intelectuais, educadores e idealistas políticos. Em comportamento, sempre esteve à frente. Nela se gerariam fatos que influenciariam a história do país. O jornal O Norte, por exemplo, fundado por Isaac Martins em 1889, fora um dos maiores defensores do regime republicano. Na época vigorava o império.

            Quanto aos filhos, Barra do Corda muito contribuiu em matéria de recursos humanos. Pessoas altamente qualificadas. Nasceram líderes políticos de grandiosa expressão. Governadores do Maranhão, deputados federais, estaduais, prefeitos e vereadores. Médicos, engenheiros, advogados, jornalistas, poetas e tantos outros profissionais.

            Barra do Corda é tudo isso e algo mais. A um tempo poderíamos caracterizá-la como cosmopolita.Em outro, sertaneja e altaneira.. Na verdade, podemos qualificá-la de supreendente. Muitos a tentaram fazê-la um curral político. Não conseguiram. Mesmo com todo ensinamento histórico, muito ainda há de lição a tirar do seu caminhar. Na vertente econômica, surpreende pela produção agropecuária. Na? vertente cultural, o reconhecimento de talentosos filhos como poetas, escritores e intelectuais. Na vertente turística, promissora, ainda que engatinhando. Na vertente educacional, buscando no futuro um centro de excelência universitária. Na vertente humana, enfim, aproximando todas as gentes, na paz de quem se propõe a prosperar, a se desenvolver. É um destino marcado pelo surpreendente.

            Mas Barra do Corda, além de surpreendente é sobretudo vida. A um tempo, beleza, poesia. Em outro, sinônimo de prosperidade, de qualidade de vida. É o bastante para dizermos: Parabéns. E muitos anos de vida.

*Heider Moraes é jornalista

(Nota: crônica lida na rádio Difusora de Barra do Corda em 3 de maio de de 2001. Adaptada depois para o TB na Internet.)