Artigo
Turma da Barra 2014
jornal Turma da Barra

 


Marcos Venicius

 

"Meu desejo central é que o TB seja mais combativo! 
Que ele seja mais agressivo, com jornalismo sério e independente"

*Marcos Venicius

            Ainda que atrasado trago aqui meus votos para o TB neste novo ano. O texto é curto e objetivo, mas contem importância.
            Na confraternização do TB, no fim do ano de 2013, Heider Moraes, fundador e editor, declarou que sua ideia original concebia o TB mais cultura
l e literário que, necessariamente, informativo.
            Essa declaração diz muito, não decepciona, jamais, mas delimita espaços. É oportuno afirmar que no contexto da declaração, a mesma, não significou que Moraes estivesse abdicando a vertente informativa do TB.
            O Turma da Barra a longo de seus 24 anos sempre foi referência em informação e cultura. Felizmente estão (e estiveram) reunidos neste grupo (grupo das pessoas que fazem o TB) indivíduos de muita competência e habilidade para atuar em ambas as produções.
            No entanto meus votos para o TB em 2014 são que ele protagonize ainda mais o espaço de divulgação de informação e cultura em Barra do Corda e para seus amantes em toda parte.
            Meu desejo central é que o TB seja mais combativo! Que ele seja mais agressivo, com jornalismo sério e independente.
            É comentado por muitos que grande parte da imprensa cordina foi adquirida pelo, decepcionante, chefe do poder executivo e ou seus colaboradores, por isso também o TB deve intensificar e sofisticar a fiscalização sobre esse governo. Ser político não é opção é compromisso!

*Marcos Venicius Oliveira Silva é barra-cordense, estudante da Universidade de Brasília

(TB/8fev2014/nº 16)

 

Artigo
Caixa de maribondos
jornal Turma da Barra

"Pensando a história do carnaval enquanto festa popular
 e suas incidências sobre a opinião pública, e ainda a questão do financiamento público, me proponho a questionar a festividade
"
"
Os “blocos-políticos”, por exemplo, por possuírem aparente maior estrutura e alcance popular, poderiam assumir responsabilidades sociais e culturais, divulgando a história da cidade"

*Marcos Venicius

            Início este artigo pontuando que estive em Barra do Corda, no período do carnaval, e que esta foi uma experiência muito agradável, contudo, esclareço que a festa por si só não foi motivo da avaliação positiva do meu passeio. Quero colocar que julgo o carnaval uma festa bonita e necessária por ser essencialmente popular. Resgato de minhas memórias que última vez que frequentei o carnaval cordino estávamos no ano 2007, época que ainda residia em Barra do Corda, desde este ano até hoje muitas transformações ocorreram a cidade e também ao carnaval, infelizmente não radicais como julgo necessário.
            Existem em toda sociedade assuntos caros dos quais muitos preferem não opinar com vistas a evitar desconforto, em Barra do Corda dentre vários poucos são tão abrangentes e perigosos como o carnaval. Se na história nacional assuntos como os crimes da Ditadura seguem protegidos e intocáveis, apesar de algumas inciativas, pode-se dizer que na Barra o carnaval seja um tabu protegido por sua popularidade e peso político, tudo isso faz dessa grande festa popular uma caixa de maribondos onde muitos preferem não por a mão.
            Novamente, em escala nacional se reconhece com facilidade temas que são ricos em poder político. É inegável, por exemplo, que uma gestão que administre com habilidade e sorte, a economia, tenha favoritismo e popularidade mesmo com o contrapeso de eventos vexatórios, como grandes casos de corrupção. Assim fico tentado a equiparar que em Barra do Corda gestões possam ser avaliadas por seu desempenho a frente da grande festa, tal qual, presidentes são avaliados por seu desempenho a frente da economia.
            Lá no primeiro parágrafo ponderei que minha felicidade em minha passagem por Barra do Corda não deva ser atribuída diretamente ao carnaval, aqui explico o porquê da ponderação. Antes confesso que não sou o maior adepto do “modelo de carnaval baiano”, tão pouco, do modelo alegórico-sambista, contudo, reconheço que estes modelos não sejam no todo desprezíveis, contendo em cada um algo útil a realização de uma festa popular. Minha decepção com a festa na Barra se deu, especialmente, no dia em que me dispus a sair de casa e ir ao caldeirão da folia com intuito de contemplar desfile dos blocos de trio. Naquela ocasião confesso que o que vi me despertou tristeza e por hora vergonha, o que ficara nítido a mim é que estes “blocos” têm uma funcionalidade política que parece resumir sua razão de existir, os resultados dos “desfiles” comprovam o que penso. Então o que temos são “blocos políticos”, pelo menos os de trio, enquanto braço cultural de determinados grupos dentro da festa mais popular no cotidiano cordino, braços que seguem se engalfinhando como se o momento eleitoral da política nunca houvesse acabado.
            Pensando a história do carnaval enquanto festa popular e suas incidências sobre a opinião pública, e ainda a questão do financiamento público, me proponho a questionar a festividade. Assim como muitos outros que vão ao carnaval cordino, sou apenas um visitante que passa alguns dias e logo vai embora carregando apenas as lembranças, portanto quero questionar os benefícios e malefícios que a festa proporciona a cidade e seu povo. Os “blocos-políticos”, por exemplo, por possuírem aparente maior estrutura e alcance popular, poderiam assumir responsabilidades sociais e culturais, divulgando a história da cidade de modo criativo aos visitantes e os próprios habitantes. Deveriam questionar e sugerir mudanças na esfera comportamental e social.
            Estes blocos poderiam ser uma ferramenta de emancipação e enriquecimento da cultura popular e não o contrário. O esforço deste artigo não é de criticar aspectos já muito cotidianos e lamentáveis do carnaval cordino, tal qual, os casos de violência, o nível de comportamento dos foliões, a degradação moral e ambiental comum deste período. O verdadeiro esforço é de trazer a tona necessidade urgente de remodelar que carnaval queremos para Barra do Corda, afinal se esta festa é a grande vitrine da cidade, precisamos organiza-la em conteúdo e estrutura de modo que seja rica culturalmente, compensatória economicamente e útil socialmente. Minha sugestão é que se iniciem os debates e se apresentem as propostas, que acima de tudo comecem a por a mão nessa grande caixa de maribondos, a Barra não pode continuar como um lugar privilegiado para o consumo e abuso de substâncias, legais ou não, onde tudo se pode por um período de tempo a cada ano, um lugar sem leis, próprio para os excessos. Um projeto de uma nova Barra passa pela formatação de sua maior festa popular.
            Não pretendo aqui me opor à festa, principalmente, por enxergar nela um simbolismo que a cada início de ano permite momentos de alegria e descontração que até nos faz esquecer o quão mal vão às coisas, contudo, acho que a festa tenha um potencial cultural maior que álcool, shows, maisena, hits e camisas. A festa pode ser também manifestação popular, pode contar a história da Barra, pode questionar onde nos encontramos nessa história e projetar onde queremos ir.

*Marcos Venicius Oliveira Silva é barra-cordense, estudante da faculdade de Serviço Social da Universidade de Brasília

(TB/7mar2013/nº 15)

 

Crônica
Artesãos e ferramentas
jornal Turma da Barra

"A matéria publicada pelo Jornal Pequeno de leitura sugerida pelo TB
 é demonstrativa de uma série infelizmente infinita do trabalho de “artesãos”, a matéria bem lembra que assim como em outras investigações, misteriosamente traços importantes são desprezados em detrimento de uma real e eficaz investigação
"

            O Brasil assim como o estado do Maranhão e a cidade de Barra do Corda, são ambos palcos de riquezas, sejam elas naturais ou culturais. O campo das artes em específico é privilegiado, dentre esse universo como não citar o artesanato que sendo arte é também sustento e passatempo. No entanto estas linhas não se propõem a comentar a arte – não a que costumamos apreciar, tão pouco algo de que devamos enquanto brasileiros, maranhenses e cordinos, nos orgulhar. A arte que aqui farei breve menção é na verdade o traço cultural mais nefasto que compõe a história do povo tupiniquim. A “arte” da falcatrua.
            Um dicionário qualquer sugerirá que artesão seja um artista ou “Indivíduo que exerce por conta própria uma arte, um ofício manual”. Um mesmo dicionário de valor acessível em uma banca de esquina, dirá de uma ferramenta, que seja esta um “utensílio duma arte ou ofício”. Pois bem, tudo tão claro quanto linhas de dicionário, mas abdiquemos os contornos e vamos ao importante.
            A matéria publicada pelo Jornal Pequeno de leitura sugerida pelo TB é demonstrativa de uma série infelizmente infinita do trabalho de “artesãos”, a matéria bem lembra que assim como em outras investigações, misteriosamente traços importantes são desprezados em detrimento de uma real e eficaz investigação, havendo assim a priorização de linhas investigativas mirabolantes que nos levam a “elucidação” de crimes de grande audiência, como o caso do jornalista sarneyzista a qual a matéria se refere.
            O que deve ser percebido com olhos atentos é que em nosso cotidiano somos frequentemente surpreendidos com histórias e estórias das mais impressionantes, contudo não basta às informações em si, o que choca é a percepção que indivíduos nos bastidores arquitetam - de uso de suas “ferramentas” - o desenrolar dos roteiros, verdadeiros “artesãos” confeccionam - com sua imensa habilidade para falcatruas – desde tramoias e trambiques aos meios de se safarem das próprias “artes”. A situação é ainda mais dramática
quando indivíduos e instituições são feitas “ferramentas” contra opinião.
            Uso palavras amenas – artes, artesanato - para me referir a assassinatos, assaltos ao dinheiro público, abuso de poder, intimidação entre outras barbáries que de tão recorrentes são naturalizadas pela sociedade. Os “artesãos” da “arte” da falcatrua são geralmente parlamentares-empresários, empresários e afins. Já as “ferramentas” são variadas, podendo ser: “jornalistas”; blogueiros; “radialistas”; membros da segurança pública em geral; canais de tv; “juízes”; parlamentares; matadores de aluguel. O plantel é grande.
            Caros leitores são muitas histórias e estórias que certamente têm o trabalho de “artesãos” e suas “ferramentas”, Barra do Corda cidade de imenso potencial em “artesanato” possui infelizmente “artes” em abundância, muitas ainda por serem interpretadas e atribuídas aos devidos “artistas”, note-se os “trabalhos” a serem descobertos na prefeitura.

*Marcos Venicius Oliveira Silva é barra-cordense, estudante da faculdade de Serviço Social da Universidade de Brasília

(TB/31jan2013/nº 14)

 

Crônica
Lucidez
jornal Turma da Barra

"O início dos trabalhos do novo prefeito
 - principalmente a nomeação dos cargos de confiança – 
é sintomático de uma prática política nada irreverente – o que reponde a questão inicial, qualquer cidadão pode observar o loteamento de secretaria
"

*Marcos Venicius

            Barra do Corda parece respirar novos ares, nos semblantes de seus cidadãos esperanças “concretas” alimentam sonhos, individuais e coletivos. Toda euforia que neste instante preencham os corações, há de ser relevada se nos flexionarmos a aceitar que as festividades, são um ótimo cenário para nos descolarmos da realidade e dar espaço aos sonhos, as preces e desejos. O contexto é de mudança, festa e comemoração, sensação de liberdade, clima agradável, novo prefeito, novos secretários, mas será uma nova política? É uma questão e tanto que não pretendo responder sem antes percorrer um caminho necessário.
            O que nos trouxe a este mês de janeiro eufórico e esperançoso foi - de modo absurdamente resumido – uma gestão “produtiva” – razoável se observada o histórico local - sucedida por quatro anos perdidos. Então no ano de 2004 tendo experimentado o pior a população opta pelo já conhecido razoável, assim temos uma gestão de 8 anos organizada a conveniências particulares mascarada por carnavais e concreto, , enfim, não preciso rasgar termos pejorativos para apresentar os últimos dezesseis anos de Barra do Corda, o fato é que na iminência do inferno, por medo, fomos capazes de santificar qualquer opção sem maior criticidade. Por este caminho chegamos a este janeiro de euforia e esperança.
            No outubro passado, grande maioria da população, parcela majoritária dos esclarecidos – não pertencentes ao grupo do poder – e grupos excluídos dos assaltos aos cofres, todos estes estavam em luta, de forma declarada ou não todos abraçaram a oposição em prol de uma pretensa mudança. Cada um dos três grandes grupos com suas ambições particulares. Ao povo penso que qualquer melhoria era conveniente, aos que fazem política como negócio nada como as oportunidades, aos esclarecidos acredito que o sonho de uma nova sociedade os motivou. Contudo de modo amplo o que ocorreu no outubro de 2012 é claramente semelhante ao ocorrido em outubro de 2004, todos temendo a continuidade que não os era conveniente, mergulharam de cabeça na oportunidade de ruptura.
            É inegável que dentro do cenário que se apresentava qualquer que fosse o projeto de oposição deveria ser apoiado em prol de uma ruptura necessária, contudo mostra-se expressamente necessário recobrar a lucidez, usada ao criticar os últimos oito anos. É preciso se ater que o monstro recém-derrotado foi forjado em situação semelhante: a euforia fruto do medo.
            Um inesquecível grupo político – como se pretende ao nomear prédios de modo irregular com pretensão de eternizar pela história - se construiu a partir de legitimação popular, tal acontecimento, no entanto cravou na história da cidade e seu povo, atrasos e traumas que demorarão a serem superados e esquecidos. Não se deve abdicar a conexão entre passado e presente, percebendo que o mesmo grupo que se propagandeia portador da mudança se alia e tem como base a maior representação recente do arcaico, principalmente no que tange a liberdade de imprensa – não esqueçamos o caso do radialista espancado. Lucidez e combatividade cotidianas podem livrar a sociedade cordina de gestar novos dinossauros políticos.
            Em especial declaro que me assusta a postura dos jovens que parecem se contentar com a vitória por eles encampada. O início dos trabalhos do novo prefeito - principalmente a nomeação dos cargos de confiança – é sintomático de uma prática política nada irreverente – o que reponde a questão inicial, qualquer cidadão pode observar o loteamento de secretarias em torno de alianças necessárias a posse do poder e sua governabilidade. A política burocrática de conveniências mais uma vez é preterida diante da tão sonhada excelência na gestão pública, haja vista nomeações bizarras como a do Meio Ambiente (como imaginar um grileiro de terra com processo tramitando em justiça ocupando tal pasta?) que é pedra fundamental da decadência ideológica do atual prefeito - decadência que eu particularmente já esperava. Não se pode também esquecer que uma estrutura de governabilidade pode ao mesmo tempo ser confortável a práticas corruptas com vistas ao enriquecimento e recompensação, afinal campanhas não são financiadas por ideologia, não em Barra do Corda.
            Preocupa-me toda euforia deste mês de janeiro, reitero que me assusta prioritariamente a posição governista de grande parcela da juventude, que parece ainda se localizar na “guerra fria” entre 20’s e 70’s – por Marx quanta mediocridade – quando em comportamento deprimente festejam o exercício de obrigações, como coleta de lixo.
            O suprassumo da infantilidade política está no comportamento de achincalhar o que eles identificam como 70’s, enfim sintoma agudo de pensamento restrito e pobre.
            Continuo a enxergar a profunda necessidade da construção de uma terceira via que estenda sua atuação ao cenário político, que observe as tendência gerais de modo a interferir nas particularidades cordinas, que de posse da máquina pública promova as transformações necessárias ao alcance de um projeto de cidade que Barra do Corda merece.
            Eu que não possuo senhor - por não ser servo – rogo aos semelhantes em convicções que um dia construída a terceira via, tenham como premissa o bem comum e progresso humano da cidade, para que secretarias de grande interesse do povo não sejam delegadas a quitação de quaisquer acertos político-burocratas e sim aos seus merecedores em capacidade e compromisso.
            Estive semanas atrás em Barra do Corda e posso com firmeza apontar que além da já escassa água, falta agora lucidez, histórica e política ao povo – principalmente aos eleitores jovens do então prefeito. O melhor modo de apoiar qualquer gestão é cobrando-a e fazendo pressão de modo a direciona-la a uma administração eficaz, euforia e comemorações são dispensáveis em política de gente grande. Espero ansioso que os jovens de Barra do Corda tomem pra si a função social que lhes cabe, ser a vanguarda da mudança e da ruptura com o velho, mas antes de tudo é necessário abdicar quaisquer coligação e ter como partido o povo e sua cidade, ter como tarefa do dia a própria organização, antes de mais nada é preciso memória, criticidade e lucidez, sem estas três categorias não passaram de uma nova geração de babões com o “plus” de não possuírem mensalinho.

*Marcos Venicius Oliveira Silva é barra-cordense, estudante da faculdade de Serviço Social da Universidade de Brasília

(TB/13jan2013/nº 13)

 

Crônica
Política pobre
jornal Turma da Barra

"Minha tristeza e padecimento se dá na constatação que em Barra do Corda se reproduza fenômeno cada dia mais comum na esfera política, a ausência de ideólogos e o inchaço de personagens de diferentes orientações, mas com ambição comum, a posse do poder"

*Marcos Venicius

            Eu humilde Marcos Venicius, tenho minha própria concepção do que seria uma política ou um cenário político bonito, rico, digno de admiração. De início penso em partidos nos quais siglas e ambições signifiquem a mesma coisa. É impossível também não projetar grandes oradores, mulheres e homens com oralidade admirável, indivíduos capazes de arrepiar multidões com discursos coerentes e empolgantes. Adiciono a este caldo uma sociedade engajada e mobilizada em prol de ideias e projetos societários. Creio que de tudo isso surgiriam embates e debates maravilhosos de se ver e protagonizar. Imagino quase em sonho quão bela é a política praticada sob a égide de ideologias fundamentadas e argumentadas. Grosso modo, essas são características que esboçam a mim disputas políticas bonitas de se ver.
            Minha tristeza e padecimento se dá na constatação que em Barra do Corda se reproduza fenômeno cada dia mais comum na esfera política, a ausência de ideólogos e o inchaço de personagens de diferentes orientações, mas com ambição comum, a posse do poder. Até certo tempo sonhávamos com oposições e governos que se opunham em concepções e ideias, hoje sua divergência parece se dá apenas por ambos desejarem algo que só um poderá possuir, o poder, enfim parece de minha parte a construção de um pensamento pobre, mas é o que se verifica com mais nitidez a cada dia, haja vista principalmente a conduta dos que se intitulam de esquerda e promovem o que a direita sempre sonhara.
            Contudo o que faz do cenário político de Barra do Corda paupérrimo, não se dá apenas pela ausência de projetos de cidade, afinal acho que a décadas Barra do Corda não têm um político com este traço admirável, mas o próprio modo de conduzir campanhas, o próprio modo de fazer política evidencia uma pobreza lamentável, mostrando que a população se manterá infelizmente refém a uma bipolaridade política que em nada beneficia a cidade e seu povo.
            O caso do brutal do assassinato durante a campanha política - sem querer aqui adentrar no caso em si – revela o nível dos personagens que protagonizam a política cordina. De início determinado grupo e seus componentes acabaram beneficiados, intencionalmente ou não, é inegável que se beneficiaram. Uns de modo bastante direto, como é exemplo alguns parlamentares que provavelmente sem tal fato não teriam gozado consagração. Agora o fenômeno do uso político se repete no outro polo dessa guerra fria que vez ou outra ameaça esquentar. Eu que ainda não vejo o caminho para as grandes mudanças, me conformo que não encontraremos na cena existente a saída que a Princesa do Sertão precisa pra encontrar a prosperidade social. Afinal leitores, só pobres sujeitos protagonizam uma política pobre. Ainda sonho com um terceiro caminho, haja vista que a renovação dos polos não parece ser o suficiente para a revolução - dentro da democracia – no modo de administrar que Barra do Corda anseia.
            Este ano se encaminha para o fim e outros virão, dentre estes estarei atento aos próximos quatro e a gestão do polo outrora opositor que agora assumirá a rédeas do executivo cordino. O máximo que posso esperar é que administração não se equivalia à política, que seja uma administração rica, mas confesso que o início dos trabalhos já me confere insegurança. Vejamos, aliás, são quatro anos. Ainda sobre o cenário político, como fruto da cena de dois polos em disputa pelo poder surge - a minha precária análise - um pretenso e estruturado – de esfera política a cultural - projeto contra hegemônico, até aí isso não é algo fenomenal, minha preocupação é saber se a corrida pela hegemonia na política cordina contempla o projeto de desenvolvimento que a cidade e o povo precisam. Como prece ao fim deste ciclo, sonho que a política e os pobres políticos desapareçam da cena Cordina. Que os novos anos venham acompanhados de uma nova Barra.


*Marcos Venicius Oliveira Silva é barra-cordense, estudante da faculdade de Serviço Social da Universidade de Brasília

(TB/28nov2012/nº 12)

 

Artigo
Primavera cordina
jornal Turma da Barra

"Tenho apenas 19 anos, porém no meu breve conhecimento não possuo notícia de fenômeno tão consistente e autônomo, como as manifestações recentes em nome de justiça, liberdade e paz. Quanto ao sangue sabemos que houve e que foi relevante, porém não se possui ainda a certeza da ligação com a conjuntura política."

*Marcos Venicius

            Título sugestivo não? Julgo que sim, inclusive o forjei justamente com esta intensão. Intensão de provocar automaticamente no leitor – apostando em seu razoável acesso a notícias – a vinculação da situação de Barra do Corda com as revoltas no Mundo Árabe. Estaria eu cometendo enorme equívoco a fazer tal paralelo? Não, acredito que não. Para tal, o convido a enumerar de modo raso semelhanças que me permitem – guardando as devidas proporções – construir essa conexão.
            As revoltas do mundo árabe também conhecidas por Primavera Árabe são – grosso modo - um conjunto de manifestações de cunho diverso, desde revoluções com conflito armado a manifestações passivas. Dentre os motivos indicados como estopins para inflamação de todo esse movimento, alguns não nos são estranhos: liberdade; desemprego; concentração de renda; corrupção política; sede por democracia e injustiça social. Os métodos e protagonistas também nos remetem lembranças, jovens indignados usando redes sociais em sua organização.
            Este movimento desencadeado em 2010 que resiste até os dias de hoje, me lembra em aspectos a conjuntura observada em Barra do Corda nos meses que antecederam as eleições. É claro, que felizmente cordinos não tiveram que pegar em armas pra lutar por sua liberdade e por melhores condições de vida, contudo a meu ver movimentos passivos – politicamente - não são menos combativos, assim sendo, cartazes, bandeiras, vozes e votos foram às armas que o povo usou para se libertar. Tenho apenas 19 anos, porém no meu breve conhecimento não possuo notícia de fenômeno tão consistente e autônomo, como as manifestações recentes em nome de justiça, liberdade e paz. Quanto ao sangue sabemos que houve e que foi relevante, porém não se possui ainda a certeza da ligação com a conjuntura política.
            Outra curiosidade é perceber como se espalha pelas redondezas, com as vitórias das oposições, a reação do povo com o velho. Ainda pensando no mundo árabe é preciso enfatizar que revoluções deste cunho são perigosas, na ausência de projetos transformadores. O que quero dizer é que substituição por si só não me é interessante, somente a transformação me é valiosa. É conhecido que em alguns territórios onde houve conflitos e revoltas, até o instante da construção deste artigo as mudanças desejadas ainda não ocorreram, portanto, mostrando o risco da mera transferência de poder. Outro risco é o uso do movimento social por outros setores interessados no poder em disputa. Neste paragrafo quero reiterar meus leitores por minha opinião, que diz que não devemos nos apegar a homens ou grupos, mas sim a ideias e projetos, de modo que os homens e grupos sejam apenas nossas ferramentas ao alcance de nossos objetivos. É inegável que a oposição serviu a ânsia por alternância de poder, resta mostrar-se capaz em trazer as transformações que desejamos.
            Finalizo mais este esforço literário afirmando agora com maior segurança, que sim, podemos dizer que os últimos meses da história de Barra do Corda podem poeticamente serem conhecidos como Primavera Cordina.
            Aos jovens presto minha mais honesta reverência, peço que se atentem com a ideia de que um povo mobilizado e politicamente esclarecido jamais permitirá a imposição e fundação de “oligarquias democráticas”. Já dando início a meus trabalhos de fiscal do futuro prefeito. Declaro que nem de longe julgo o grupo vencedor o ideal dentre o que sonho pra nossa cidade, apesar de não ser o maior adepto da Tecnocracia, acredito que administração carece de um par que consiste na aliança entre conhecimento e compromisso com o bem comum.
            Resgato ainda mais uma concepção* minha. Sigo enxergando a necessidade da construção de uma coalização que não seja refém dos grupos políticos já conhecidos em Barra do Corda, ainda sou carente de uma Terceira Vertente. Aos jovens digo que não prestem agora qualquer adoração ao prefeito eleito, mas sigam organizados no intuito de cobrar o projeto que os fez se mobilizarem como nunca. Acredito que com essa conduta não será necessária uma nova Primavera Cordina.
            *A Terceira Vertente é um sonho meu evidenciado em artigo anterior neste mesmo site, que brevemente explicitado, consiste na construção de uma terceira alternativa no intuito de fugir das opções conhecidas na conjuntura da política cordina.

*Marcos Venicius Oliveira Silva é barra-cordense, estudante da faculdade de Serviço Social da Universidade de Brasília

(TB/14out2012/nº 8)

Artigo
UFMA - Popular e pública
jornal Turma da Barra

*Marcos Venicius


            Aos jovens de baixa renda de todo o país a universidade pública parece algo inatingível. É como se tivéssemos um prêmio, mas não pudéssemos pegar. A forma de ingresso – o vestibular - perece para muitos ser a principal barreira que separa nossos jovens das universidades – que são suas por direito. Engana-se quem assim pensa o vestibular só é uma ferramenta de um vasto aparato de manutenção de posições a favor da exclusão social.
            Há na sociedade uma ordem, que é composta de estamentos e classes, onde de acordo com seus códigos – a sociedade – define quem será gestor e quais são as pretensões em jogo. O jogo nada mais é que o caminhar da humanidade e a pretensão até então me pareceu ser o tão buscado desenvolvimento. Ainda de acordo com suas regras, deveria sobre este jogo pairar a justiça de modo que cada um possa conquistar seu lugar ao sol.
            Nada de novo, tudo aqui já nos parece normal. Todos já têm naturalizada a idéia de que o mundo está cheio de oportunidades, basta somente esforço e se alcançará o que deseja. Perdoem-me, mas parece ingenuidade pensar que os detentores das rédeas do meio social entregariam seus postos aos vencedores de uma corrida de esforços. Não, jamais fariam isso, eles sim defenderiam a todo custo suas posições e privilégios. E assim o fazem.
            - Marcos, mas se assim é, porque então temos educação à disponibilidade de todos?
            Logo munidos dela em uma sociedade em que o trabalho intelectual é bem mais valorado que o braçal, todos podem conquistar seu lugar.
            - Ok. Mas atentemo-nos para o detalhe que a educação não está à disposição de todos, até está, mas no papel. Na realidade a nossa sociedade não dá aos sujeitos tanta mobilidade quanto se pensa.
            Quero meus caros leitores bem claro deixar, que o maior temor dos grupos dominantes não se encontra necessariamente na perda de posições no mercado de trabalho, por exemplo, afinal com suas gordas heranças não é de sua cultura pleitear vagas. O temor se instaura mesmo, sob a possibilidade de esclarecimento do povo por via da educação. Concordem vocês que o povo bem esclarecido e dotado de consciência crítica seria uma enorme pedra no sapato para os que pretendem lhe escravizar eternamente.
            Os processos de mudança social costumeiramente se consolidaram através de mobilizações de inconformadas camadas sociais, como se sabe a mudança só é conveniente a aqueles que não se encontram satisfeitos com a presente situação.
            Pensando assim, como a ordem sempre beneficia pequenos grupos, não é conspirador imaginar que estes grupos desenvolvam seus mecanismos para justamente assegurar a manutenção da ordem.
            No que tange a seus mecanismos, basta imaginar a ilusão de meritocracia que se instalou aliada a também fajuta democracia. São apenas dois exemplos de ferramentas que parecem garantir a tão desejada justiça social, no entanto, prolongam a injustiça.
            Dentro da ilusão de mobilidade social a educação sempre pareceu à ferramenta mais eficaz. Não importa se o sujeito é filho de lavrador ou dona de casa, se ele desde cedo tiver em sua cabeça uma sólida pretensão de subir na vida, nada o impedirá. Basta que ele vá à escola, se esforce e se dedique, logo alcançara seu sonho e poderá dar uma melhor condição de vida aos seus pais.
            Se parece assim tão fácil, porque somente alguns poucos conseguem esta mobilidade? Não, não é fácil. Na verdade são impostas todas as barreiras possíveis.
            O interessante para o sistema é manter a ordem, de acordo com a ordem filho de ignorante deve permanecer ignorante. Quem ainda não se convenceu que existem sim “tetos de vidro” que apesar de não ser uma lei, se executam como se fossem. O caminho que o filho do trabalhador pobre percorre até a chance de obter a tal mobilidade é longo e árduo.
            O indivíduo nasce e em uma perspectiva otimista, ouve desde muito cedo do pai que deve ir a escola para se tornar um doutor. O pai é tudo que sabe, só tem uma impressão que caras engomadinhos e que não trabalham com a força dos braços se encontram naquele privilégio porque estudaram.
            Ainda na perspectiva otimista, suponhamos que essa família more na zona urbana, onde se têm escolas públicas em boas condições. Diante de todo o otimismo é importante lembrar que esse jovem poderia estar situado em condições em que não haveria opções. Ele poderia, por exemplo,             ter que trabalhar desde cedo, poderia optar por trabalhar, diante de suas ambições de consumo.
            Poderia simplesmente desistir apenas pela ciência do calvário de sacrifícios que teria de percorrer para chegar a algum lugar. Imagine que através do esforço de sua família e o seu próprio, esse jovem tenha cursado toda a educação básica e concluído o ensino médio.
            Perfeito mas nesses moldes – o ensino médio - ainda não representa nada de efetivo na sua caminhada rumo à mobilidade tão sonhada. Sem o ingresso na universidade nada foi feito. É neste estágio do calvário que o sistema ceifa os sonhos.
            Vejam as realidades de jovens em todo o Brasil que atingem o ensino médio e não tem ciência da universidade pública. Não é raro de se encontrar este cenário. É na hora de disputar vagas no vestibular que nós percebemos o arcabouço que separa os bem nascidos dos oriundos das classes pobres. 
            A educação como um todo no Brasil é criticada, porém sabemos que desde a universalidade a escola pública tem uma posição inferior ao setor privado. Tanto esta situação é fato que os mais abastados enviam seus filhos para estudar no exterior.
            Hoje temos um contexto bem mais brando, temos o PROUNI. Mas um modo de transferência da responsabilidade para o mercado, afinal é bem mais fácil favorecer os grandes grupos da educação superior, do que constituir um eficaz sistema de educação pública, que permita aos filhos dos trabalhadores competirem de igual para igual no vestibular.
            Temos também o REUNI – que tenta inchar a universidade na marra, colocando pessoas sem que essas tenham nem mesmo salas ou professores – que aumenta o número de vagas.
            Apesar dos pesares, é fácil compreender a ideologia de manter através dos séculos os filhos dos ignorantes meros ignorantes. Afinal um povo educado, consciente de suas situações e calejado de uma vida de sofrimento, jamais toleraria abusos escandalosos como os que ocorrem nos dias de hoje. Não é á-toa que o povo vê a tudo isso com conformidade, a falta de educação empobrece o caldo cultural. Logo a consciência política nem mesmo existe, sabemos de tudo, mas nada questionamos nada fazemos nada mudamos.
            O resultado de toda essa armação sou eu caminhar por corredores e só ver roupas de marca, produtos tecnológicos de ponta, ostentações e exibições de todas as formas. O que se vê é um universidade pública que é particular de um pequeno grupo de privilegiados. Enquanto isso os jovens brasileiros oriundos das classes pobres nem no mercado de trabalho conseguem se inserir.
            Sei que muitos podem levantar questões quanto ao modo que conduzi à explanação acima. Compreendam que percorri todo este árduo caminho, e tudo o que está escrito, está sob minhas perspectivas que podem ser brandas ou exageradas, a uma margem, sim há, mas no geral não é interessante a eles – os que se intitulam donos de tudo – que os pobres se emancipem.
            Nasci em Barra do Corda (MA), desde cedo soube que por ali não poderia chegar longe, quem me dizia isso eram os mesmos que me teciam elogios. Hoje moro em Brasília (DF), longe de minha família e amigos e só agora de posse de uma ainda limitada consciência, consigo compreender o caminho que fiz para estar aqui.
            Torço que Barra do Corda conquiste a UFMA, mas se ela servir apenas para que os alunos das escolas particulares não tenham mas que se destacar para São Luis (MA) ou Teresina (PI), para o povo de nada servirá, ela só reproduzirá a ordem, onde os impostos do trabalhador financiam a capacitação de seus algozes.
            Não há indignação no meu pensamento. Já passei dessa fase, há sim posição e já demarquei a minha, sou aliado do povo. A emancipação que vim aqui buscar – Brasília – não se mensura em cifras. Que venha a UFMA, mas que não seja só pública, mas popular. Só solucionamos desigualdade tratando de forma desigual os desiguais.
            As universidades públicas brasileiras precisam urgentemente de cotas sociais, do contrário nunca teremos médicos, engenheiros ou cientistas oriundos das periferias. Oriundos das classes baixas. O dinheiro do povo não pode formar seus algozes.

*Marcos Venicius Oliveira Silva é barra-cordense, estudante da faculdade de Serviço Social da Universidade de Brasília

(TB/27nov2011/nº 2)