História
Igreja Matriz faz 60 anos
Quarta parte

jornal Turma da Barra


Inauguração da Igreja ainda inacabada


Quem são os operários que ergueram a igreja matriz-monumento

Neste capítulo, queremos homenagear especialmente os operários
que trabalharam devotadamente na construção da Igreja Matriz de Barra do Corda

Por Álvaro Braga

            Frei Francisco (Chicão), que era muito enérgico e não poderia ser diferente tendo em vista uma obra de tal envergadura, controlou com mão de ferro aquele trabalho, tendo sob o seu comando toda uma geração de mestres de obras, carpinteiros, pedreiros, serventes e masseiros. A todos pagava religiosamente o que fora acertado.
            De posse da planta e croquis que fora deixado por frei Adriano de Zânica, Frei Chicão tratou de convidar o carpinteiro e mestre de obras Jackson Barros, filho de Altino Barros, para ajudá-lo na carpintaria e madeiramento. O obra durou de 1950 a 1952.
            O senhor Jackson, de 93 anos relembra: O serviço de seguir aquela planta era muito difícil, mas, com a ajuda de um livro que eu tinha, deu para resolver. Trouxeram um mestre de obras da Itália, mas aqui, com o material diferente, o clima diferente, ele se complicou e não foi aprovado.”
            O frei Carmélio foi outro frade que auxiliou  na obra, pois fazia questão de fazer serviço braçal.

Nosso reconhecimento aos valorosos profissionais que trabalharam na obra da igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceicão de Barra do Corda

             Jackson Barrros, carpinteiro, pedreiro e mestre de obras; 
            Ovídio César de Miranda, pedreiro e mestre de obras; 
            Dico Maninho, pedreiro e mestre de obras; 
            Luiz Edmo Pinto Milhomem, mestre de obras e pedreiro de confiança de Dico Maninho e dos frades; 
            Juarez Santos, servente e masseiro; 
            Absalão, pedreiro; Xerez, pedreiro; 
            Olímpio, irmão do Pau Pubo, servente; 
            Raimundo Rosa (Barrica), servente, filho de Benedito Rosa, o Papa!; 
            Os irmãos Sandoval e Durval Xavier Cruz, pedreiros; 
            Deodoro Soares, pedreiro; 
            Cazuza, masseiro, grande profissional que sabia preparar a argamassa como ninguém; 
            Zé do Evaristo, masseiro; 
            Aarão (irmão do maestro Moisés), músico e pedreiro; 
            José Parreão, pedreiro; 
            Os irmãos Cléber e Celso, serventes; 
            Antônio Isaías, servente, irmão de dona Alda Lopes; 
            Edelwiges Felipe, pai do Doca Felipe, carpinteiro; 
            Zé Soares, servente; Cravina, servente; 
            Anizinho, pedreiro; Gibão, servente; 
            Raimundo Amaro, servente; 
            Antônio Cotia, servente; 
            Zé da Ernestina, servente; 
            Clidenor Leite Brasil (Dodô), servente; 
            Abimael, masseiro; 
            Cícero Pinica Pau, pedreiro; 
            Antônio Queiroz na carpintaria; 
            Alfredo de dona Joaninha Pinto, servente; 
            Pedro do Napoleão, vulgo Pedro Róla, servente; 
            Eduardo, masseiro; Seu Rosa, servente, que o Frei Cosme, anos depois, brincando com ele dizia: - Se eu chamar você de flor, você zanga?
            Frei Francisco de Chiaravali contratou Dodô por 60 cruzeiros para ajudar a cavar o alicerce da nova igreja e retirar o entulho da velha prefeitura, que os irmãos Cléber e Celso não haviam conseguido pela dificuldade em remover blocos de paredes com a pá.
            Dodô, de 80 anos, relembra: - Terminei o serviço de retirada do entulho das paredes da prefeitura e cavei o alicerce e o frade me pagou direitinho. Ficou satisfeito com o serviço. Me lembro que um dia um servente chamado Eduardo escorregou de um lance de escada e o frei Chicão segurou ele na queda. Outra vez teve uma briga: Os irmão Celso e Cléber começaram a chamar dois serventes de “beradeiros” só porque eles tinham vindo do sertão e só caminhavam um atrás do outro em fila. Aí eles pegaram uma faca e correram atrás dos irmãos que subiram nos andaimes da obra, pegaram um pedra e continuaram a insultá-los dizendo: Beradeiros, beradeiros. Ficou por isso mesmo.
            Os frades pediram a ajuda aos diretores dos colégios Pio XI e Frederico Figueira para que os alunos colaborassem trazendo água e tijolos do porto das Pedrinhas.
            Artur Rodrigues, coletor aposentado, lembra: - Carreguei muita água para a igreja. Era uma animação para a meninada.
            Jenner Brandes também recorda: - Nós pegávamos baldes de água e íamos deixar na obra da igreja.
            Cecília Ferreira lembra que os barcos traziam os tijolos até à beira do rio Corda e todo mundo fazia uma fila das Pedrinhas até a igreja em construção e o interessante é que ninguém dava um passo, apenas passavam os tijolos de uma pessoa para outra. Em pouco tempo não havia mais tijolos a transportar.
            De outra feita, a meninada que costumava passear pela Praça para brincar e até namorar encostados nos troncos das palmeiras esbarraram em uma pilha de tijolos que os trabalhadores haviam arrumado para utilizá-los no dia seguinte. O menino era o Chico Brandes.
            No outro dia bem cedo, informaram ao frei Francisco que um filho do senhor Florêncio Brandes é que havia derrubado os tijolos. O frade se dirigiu ao colégio Pio XI e adentrando à sala de aula com um papel na mão foi logo perguntando: - Quem é Brandes aqui? O único que havia era o Carlile, que levantou o braço. Frei Chicão então se dirige a ele e puxa-lhe as orelhas e aplica-lhe um safanão na cabeça do inocente Carlile, que pagou o pato pelas artes do irmão Francisco.
            Carlile Brandes recorda: - As mãos do frade eram gigantescas e pintadas, como as de uma as mãos de uma onça. Aquilo me traumatizou profundamente e contei aos meus pais quando cheguei em casa.
            Jenner, seu irmão, ainda partiu em busca de satisfações, mas a família interveio e acalmou os ânimos. O senhor Florêncio Brandes ainda procurou o frade e aplicou-lhe um demorado sermão, que ouviu calado e de cabeça baixa.
            A obra da Igreja, como um todo, na verdade, demorou muito a ser concluída definitivamente.
            Outros trabalhadores que por ali passaram e deram sua contribuição, também merecem ser mencionados, como os pedreiros: Adelson, trocou o piso original, que era de madeira; Lulú trabalhou na fiação do forro do altar; Josias (filho de Josino Catingueira) trabalhou na reforma do altar; Ainda Dico Maninho, Edmo Milhomem e José Parreão que colocaram azulejos e fizeram os arcos e molduras das portas, serviço por demais trabalhoso.

Lembranças de Eurico Arruda, presidente da Academia Barra-Cordense de Letras

“Na época, da solenidade de inauguração da Igreja Matriz, eu tinha apenas 11 anos, mas tenho uma vaga lembrança.”

            A construção da Igreja Matriz teve por finalidade homenagear os Mártires do Alto Alegre, pelo cinquentenário do Massacre, e a solenidade de inauguração ocorreu em um dia de terça-feira.
            Lembro-me que a Igreja ainda estava em construção, pois existiam apenas as paredes laterais ainda com os andaimes; não me lembro se a torre já tinha sido construída. Não havia o piso e nem o teto. O altar de celebração da missa solene foi improvisado. Existiam também materiais de construção espelhados nas laterais da nave.
            Houve grande participação popular, com muitas autoridades civis e eclesiásticas na missa cantada em latim, (não sei se era canto Gregoriano, mas acredito que não, pois era coro e banda) com a participação da afinadíssima banda São Francisco sob o comando do maestro Moisés e um coro de vozes femininas de mais ou menos 30 figurantes.
            A missa solene foi celebrada pela manhã por D. Emiliano José Lonati, bispo de Grajaú e concelebrada por muitos outros frades.
            Ainda hoje quando me lembro do coro e os acordes da Banda, me arrepio. Era maravilhoso. Era uma obra de arte. Não comparando mal, mas a missa cantada estava mais para ópera do que para um ofício religioso.
            O ponto alto da solenidade foi o traslado para a Igreja Matriz, dos restos mortais dos mártires do Alto Alegre, que estavam depositados em urnas de madeira, numa capelinha construída para esse fim, no canto da rua Irmã Helena com a Gerôncio Falcão, com entrada pelo antigo Convento das Freiras.
            Após o traslado, os restos mortais dos Mártires foram depositados numa urna, com detalhes em alto relevo, de mármore de Carrara, que se encontra logo após a entrada da Igreja, no lado direito.
            Antes da missa houve discursos. Dentre os oradores, me lembro do então deputado estadual Almir Silva (Mica).
            A banda São Francisco executava dobrados, peças clássicas e hinos sacros. Durante a solenidade muita gente se emocionou e houve muito choro.”

Atenção: Na próxima semana: O primeiro milagre da igreja da Matriz

 


Frei Chicão – construtor da igreja


Dodô, 80 anos, quem fez os alicerces


Jackson Barros, 93 anos, carpinteiro,
pedreiro e mestre de obras

Atenção: Leia outras publicações do relato histórico: Clique aqui

(TB26dez2011)