Artigo
O homem do mundo
e de Barra do Corda
jornal Turma da Barra
Clube Maverick
Da esquerda para direita: Luciano Raulino e Katia, Sergio Barbosa e Lilian, Luiz Atta e Sandra,
Norton Luis e Kadyja, Ivan Fialho e Suzana, Nonato Silva e Heloisa. Mestre Nonato Silva
'O Mestre [Nonato Silva] viajou o mundo. Compreendeu o mundo.
Escutou e falou para o mundo, mas a energia vital, básica, que alimentou a mente brilhante, sempre foi a comida simples de Barra do Corda, que ele nunca abandonou.'*Norton Luís
Mestre, assim os *mavericanos chamavam o professor Nonato Silva, foi um homem preparado para o mundo.
Cedo viu passar a coluna Prestes por Barra do Corda, em 1926. Com medo de assalto às comidas e mantimentos, tão poucos e escassos na pequena cidade, fugiu para a mata a mando de seu pai, com uma galinha debaixo do braço, como tantos outros o fizeram.
Mais tarde seminarista, levado foi a Itália, estudou muito e “tomou gosto”, como dizem. De Roma, em plena segunda guerra e sob o fascismo, retornou com dificuldades ao Brasil e ao Maranhão.
Ainda no nordeste antes de ir a capital federal, presenciou o desfile em carro aberto das cabeças de Lampião, Maria Bonita e outros de seu grupo pelas ruas de Aracajú.
Mudou-se para a capital federal, Rio de Janeiro, lá consolidou sua carreira de jornalista e professor.
Conheceu e teve a grande oportunidade e satisfação de debater música, uma de suas paixões, com Villa Lobos.
Grande amigo de Carlos Lacerda, tiveram grandes debates e embates sobre a nova capital, mas nunca perderam a amizade.
Sem falar de Brasília, JK, Niemeyer, Lúcio Costa e Ernesto Silva. Cidade que ajudou a criar e construir ao lado dos grandes nomes e amigos.
Enfim um homem preparado para o mundo e o viveu com maestria.
Mas onde entra Barra do Corda?
Bem, cerca de 20 dias atrás [29 de outubro], numa quarta-feira, Nonatinho, seu filho e meu compadre, me perguntou, onde acho uma carne seca como aquela da Barra?
Pensei, aqui em Brasília? Difícil.
Aí lembrei-me de minha querida tia Delma Arruda Maninho, que um dia, lá na Barra me ensinou como preparar.
Uma peça de acém cortada bem fina, sal fino, mas não muito, estender no varal e em três dias esta pronta. Fui ao preparo e dito e feito, deu certo.
Carne na mão, farinha da boa e cebola na outra, vou a casa do “Mestre” no domingo [2 de novembro], um dia antes de ser internado, recebido pelo compadre e por dona Nini, nos postamos em frente ao belo pilão e com orientação precisa do Mestre iniciamos a preparação da paçoca da Barra.
Dois braços dão conta do serviço, pensei eu, mas nada, precisei de mais dois braços, do Nonatinho, e com muito suor, conseguimos, seguindo a receita do Mestre.
Satisfizemos o desejo do ilustre maranhense que se fartou da iguaria, e nós com mais um aprendizado.
Hoje pensativo consegui entender o que aconteceu naquele dia e nos 96 anos anteriores:
O Mestre viajou o mundo. Compreendeu o mundo. Escutou e falou para o mundo, mas a energia vital, básica, que alimentou a mente brilhante, sempre foi a comida simples de Barra do Corda, que ele nunca abandonou.
Sem a paçoca, a farinha de puba, bolo pôde, bolo frito não existiria o Mestre, sem os cordinos, sem o rio de águas limpas e frias, sem o encontro das águas, não teria conhecido, compreendido e vivido o mundo.
Essa foi sua base, a sua origem que ele nunca deixou ou esqueceu. A Princesinha do Sertão Maranhense viveu com ele até o último momento, até a última colher da paçoca da Barra.
*Norton Luis é engenheiro civil, casado com a barra-cordense Kádja Franco, mora em Brasília
*Clube Maverick - O Grupo de Amigos “mavericanos” foi criado por mim e Nonatinho e reuniu amigos de décadas. Fazem parte hoje:- Luciano Raulino
- Luiz Atta
- Ivan Fialho
- Sergio Barbosa
- Roberto Barros
- Luiz Pimentel - RJ
- Flávio Magno - CE
- Arnaldo Vidal -CE
- Cezar Braga - MA
- Mário Helder – MA
- Almir Atta - In memoriam
E agora Nonato Silva - in memoriam
(TB9nov2014)